ABF fecha contrato que prevê reflorestamento de 2 mil hectares

É o primeiro projeto do portfólio do fundo de reflorestamento de floresta nativa

Novembro, 2022 - Destravar o financiamento privado para empresas de conservação da Amazônia é fundamental para interromper e reverter o desmatamento na região. Os objetivos do Fundo para a Biodiversidade da Amazônia (ABF, na sigla em inglês) são conservar a biodiversidade, combater o desmatamento e os riscos climáticos, além de criar resultados socioeconômicos e de bem-estar positivos para as comunidades locais.

O ABF assinou um acordo inovador com o Centro de Estudos Rioterra e a Reforest'Action para o primeiro projeto de sua carteira de reflorestamento de florestas nativas. O investimento visa custear a restauração de 2.000 hectares de áreas de proteção permanente (APPs) em pequenas propriedades rurais na Amazônia. O objetivo final é incentivar os produtores a manter a floresta em pé, melhorar os ecossistemas locais e os meios de subsistência dos pequenos agricultores.

“Para nós, será um marco. Um projeto-piloto que depois poderá ser replicado em outras áreas da Amazônia e do Brasil”, comemora Rosana Della Mea, gestora de investimentos e analista de ESG (sigla em inglês para Environmental, Social, and Governance) da Impact Earth, a nova organização por trás do ABF e 100% dedicada ao investimento de impacto e inovação em escala.

O ABF foi desenhado pela equipe da Impact Earth de forma conjunta com a USAID/Brasil e a Alliance Bioversity-CIAT, sendo este último o responsável pelo capital-âncora. Foi projetado para superar os desafios financeiros enfrentados por empresas, startups e projetos na Amazônia, oferecendo investimentos de impacto de longo prazo para financiar empreendimentos sustentáveis.

No início deste ano, o ABF recebeu mais apoio do ASN Biodiversity Fund, administrado pela ASN Impact Investors, bem como de outros investidores.

O fundo já investe na Manioca, uma marca de alimentos que usa ingredientes amazônicos e atraiu atenção de chefs reconhecidos internacionalmente, como Alex Atala e Helena Rizzo; na Horta da Terra, empresa que produz plantas alimentícias não-convencionais da Amazônia, como taioba e jambu, e as comercializa em pó desidratado (leia mais aqui); na Inocas, que produz macaúba em sistema agroflorestal, cujo fruto é utilizado como alternativa para o óleo de palma,  e na Amazônia Agroflorestal, que envolve produtores rurais na recuperação de áreas degradadas a partir de sistemas agroflorestais com foco no café. 

Foco do novo investimento - A iniciativa com o Centro de Estudos Rioterra e a Reforest’Action prevê o reflorestamento em áreas degradadas pela pastagem de gado na bacia do Baixo Rio Jamari, localizado no Estado de Rondônia. O plano inicial é recuperar 75% da área com plantio e 25% com regeneração natural assistida, um método inovador ainda não utilizado em larga escala no Brasil, conectando e gerando habitat para espécies nativas.

As atividades de restauração serão implementadas pelo Centro de Estudos Rioterra em áreas de agricultura familiar, previstas para acontecer até 2024. Somente espécies nativas serão utilizadas.

“O projeto tem um potencial de replicação e ganho de escala gigantesco para vários biomas e também um enorme potencial de impacto social. Acreditamos que esse seja um modelo que poderá ser adequado de acordo com diferentes realidades e que poderá trazer luzes sobre a questão de regularização ambiental de propriedades rurais na Amazônia”, afirma Alexis Bastos, coordenador de projetos do Centro de Estudos Rioterra.

Os produtores selecionados receberão um investimento inicial para fazer a restauração e depois pagamentos por hectare conservado durante 30 anos. “Estamos muito animados com esse projeto”, completa Rosana.

A Reforesterra - Restauração de Ecossistemas Florestais, uma nova empresa brasileira criada pela Reforest'Action e dirigida por ela, ABF e Rioterra, será o piloto do projeto. A Reforesterra também é responsável pela certificação e vai gerar crédito de carbono com alto índice de impacto climático e social, emitido para restauração florestal.

“A Reforesterra usará as metodologias da Reforest’Action para avaliação de impacto climático, ambiental e social”, diz Pierre Gaches, COO da Reforest’Action e presidente da Reforesterra.

Monitoramento - O fundo também conta com um programa de monitoramento, em que está sendo usada uma inovadora metodologia para calcular o impacto ambiental associado à implementação de práticas sustentáveis.

Trata-se do Terrabio, uma abordagem de monitoramento, avaliação e análise para gerar evidências sobre impactos ambientais para empresas que comercializam produtos da floresta, de agropecuária sustentável, e invistam em modelos de negócios sustentáveis.

A ferramenta integra tecnologias de sensoriamento de ponta com técnicas inovadoras de coleta de dados sobre biodiversidade por meio da tecnologia de eDNA. Os dados de satélite são coletados por meio de parceria com o programa SERVIR Amazônia e o Spatial Informatics Groups (SIG), que também apoiam na análise de informações do TerraBio.

Para fazer o eDNA, é preciso coletar amostras de solo das áreas selecionadas para análise em laboratório especializado. Dois projetos que receberam aporte do ABF já tiveram material coletado – o do Amazônia Agroflorestal, no mês de setembro, e o Horta da Terra, no final do primeiro semestre (leia mais aqui).