Série Mulheres da Amazônia
Maio, 2023 – Preconceito, medo, dúvidas, violência emocional e, muitas vezes, física. Esse tem sido o roteiro da vida de muitas pessoas transexuais que lutam em todo o mundo para se assumirem como são de verdade. Por isso, a administradora Keivan Hamoud só fez sua transição em 2020, aos 26 anos.
"Não foi fácil. Antes da minha transição, eu não me sentia confortável em expor minha identidade de gênero porque cresci no interior, onde as pessoas têm uma cultura mais conservadora, eu cresci muito reprimida. Eu me sentia errada. Achava que eu não podia ser quem era", conta Keivan.
O interior a que ela se refere é o município de Beruri, distante 200 km de Manaus, capital do estado do Amazonas, onde só se chega de barco depois de um dia inteiro de viagem. E foi para lá que ela voltou depois de passar quatro anos na faculdade de Administração em Manaus. Keivan foi convidada para ser diretora de projetos da ASSOAB, associação de base comunitária que trabalha com a cadeia da castanha na região.
Foi nesse retorno, nessa nova função, e no contato com parceiros da cadeia de valor que Keivan se sentiu segura para fazer a transição. "Eu não me sentia valorizada. E achava que expor minha condição me fecharia portas e eu jamais seria uma profissional bem sucedida", acreditava Keivan que ficou surpresa com a receptividade.
"Quando surgiu a chance de a ASSOAB trabalhar com a USAID, em outros projetos, tive a oportunidade de conhecer outras cidades, muitas pessoas, e a forma como sempre fui recepcionada nas capacitações e eventos me deixou muito à vontade para que eu pudesse trabalhar isso em mim. Com a chegada da pandemia, comecei a ter depressão e percebi que tudo o que me fazia mal vinha do fato de me reprimir. Trabalhei o medo que me limitava" explica Keivan.
O acolhimento no trabalho além de lhe dar forças para ser ela mesma, a impulsionou a usar os espaços que frequentava para lutar pelas causas que acredita como a defesa dos povos da florestas e de seus territórios, e agora pela causa LGBTQIA+. "Os parceiros me ajudaram muito. Fui acolhida numa área dominada por homens, fui bem recebida inclusive pelas comunidades extrativistas com que trabalhamos”.
Junho é o mês considerado o Mês do Orgulho LGBTQIA+ em todo o mundo. Passeatas e atos durante o período marcam a luta do movimento LGBTQIA+ por liberdade, respeito e segurança. No interior da Amazônia, Keivan já é referência na luta por esses direitos e diariamente incentiva pessoas transgenêros a superarem o medo e se assumirem, para que possam ser livres e felizes. "Tenham coragem e nunca desistam dos seus sonhos. Acreditem em si mesmas, encarem os medos e o preconceito. A nossa coragem tem que ser maior que nossos medos".
Série - Ao longo de 2023, o informativo da PCAB vai trazer histórias de luta e sucesso de mulheres contadas por elas mesmas. São indígenas e ribeirinhas que trabalham e contribuem para o desenvolvimento de suas comunidades tradicionais, moradoras de áreas de proteção da floresta amazônica com toda sua diversidade ecológica.