Empoderamento feminino: o legado de respeito ao conhecimento e cultura indígena
Janeiro, 2024 — Da criança tímida que brincava livremente por sua aldeia até a posição que ocupa hoje como uma das coordenadoras da associação de mulheres indígenas de seu estado, o Maranhão, Diolina Krikati sempre valorizou um ensinamento: o respeito ao conhecimento tradicional e a pessoas anciãs.
Com esse respeito, ela se tornou uma das lideranças de sua comunidade, a aldeia São José, na Terra Indígena Krikati. Por sua conquista, recebeu das mãos do cacique – principal liderança da aldeia – um cocar, símbolo de honraria para o povo Krikati, dado a quem está à frente nas lutas em defesa dos direitos indígenas.
Tempos depois, Diolina deu o cocar de presente ao ancião e cacique Raoni Metuktire, líder do povo Mẽbêngôkre-Kayapó, reconhecido internacionalmente por sua atuação na luta pela preservação da Amazônia e dos povos originários. Ela teve a oportunidade de conhecê-lo em Belém, durante os Diálogos Amazônicos, evento realizado em 2023 pouco antes da Cúpula da Amazônia para reunir movimentos sociais.
Representando seu povo, Diolina também esteve em Brasília no Acampamento Terra Livre (ATL), realizado anualmente e considerado a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil.
“Foi emocionante. Um cocar não é simplesmente um enfeite que nós usamos. Ele tem um valor espiritual e nos faz ter orgulho por usar. E foi a luta pelos direitos indígenas que me permitiu conhecer outros lugares, como Brasília”, diz, em meio à floresta próxima à aldeia.
Buscando valorizar a cultura do seu povo, o conhecimento tradicional e a defesa dos territórios, Diolina diz que seu trabalho tem sido orientado pelo coletivo e pelo fortalecimento do papel das mulheres nas comunidades. Aos 32 anos e mãe de quatro filhos, ela é uma das quatro coordenadoras da região sul da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (Amima), entidade que representa os povos Krikati, Guajajara e Gavião.
A Amima é uma organização apoiada pela USAID em ações de fortalecimento organizacional desde 2019. A parceria é com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI); o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e instituições locais.
Uma das ações da Amima que receberam suporte foi exatamente a assembleia em que Diolina se tornou coordenadora, em 2023. “Fui candidata na última hora na assembleia. Fiquei muito feliz por representar o coletivo e, principalmente, por ser a primeira Krikati a assumir uma coordenação.”
Fortalecimento - A USAID é catalisadora e apoiadora dos povos indígenas, amplificando suas vozes e entendendo que são fundamentais para a conservação da biodiversidade na Amazônia brasileira. A Agência apoia, entre outros, a implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI) do Brasil.
Lideradas por organizações locais e representativas dos indígenas, estas atividades contribuíram para proteger, restaurar, conservar e gerir de forma sustentável os recursos naturais dos territórios e o bem-estar das comunidades.
Com o foco na gestão territorial e conservação dos recursos naturais, outra iniciativa apoiada pela USAID na Terra Indígena São José, onde Diolina vive, é o projeto de restauração de áreas degradadas e recomposição de vegetação nativa.
Os indígenas montaram um viveiro de espécies nativas na comunidade. Sob a coordenação dos agentes ambientais e brigadistas, o viveiro fornece mudas de sumaúma – considerada sagrada pelos povos indígenas –, açaí, tamburi e outras, que são plantadas em áreas degradadas.
A iniciativa (saiba mais) faz parte do Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Fogo no Brasil, executado pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS). É implementada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), USFS e com a colaboração do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“Temos na aldeia brigadistas que, além de combater os incêndios, vem cuidando do viveiro de mudas e do projeto para recuperar plantas medicinais e espécies que usamos no dia a dia. Nosso trabalho tem buscado incentivar a participação das mulheres”, afirma Diolina, que cursou magistério e é graduada em Ciências da Natureza.
Neste trabalho de brigadistas, as mulheres vêm se envolvendo cada vez mais e buscando seu espaço. E, para trocar experiências entre elas, foi realizado no final do ano passado o 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais, reunindo representantes de quatro povos, também na aldeia São José.
Entre as discussões estavam iniciativas visando fortalecer a participação feminina (leia aqui).
“Queremos conscientizar as mulheres de que elas são capazes e que cada uma tem seu valor. Por meio das parcerias que fortalecem nossos projetos e da união, conseguimos somar cada vez mais. Queremos um país com respeito, sem preconceito e que aceite a diversidade de cultura. E sem esquecer de preservar a mãe natureza”, completa.