Assembleia do CIR: fortalecendo autonomia e sustentabilidade dos povos indígenas
Março, 2024 – Acesso a políticas públicas nas áreas de educação e saúde; impactos das mudanças climáticas para as comunidades e formas de combatê-las; novas iniciativas visando gerar renda às famílias e formação de jovens estiveram entre os temas tratados neste ano durante a 53ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima.
Organizada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), a assembleia trouxe o slogan “Terra, Identidade e Autonomia dos Povos Indígenas”. As lideranças entregaram uma carta a autoridades com reivindicações das comunidades locais (leia aqui). A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana estiveram no evento que reuniu mais de mil pessoas.
Na carta, as lideranças destacaram a preocupação com as mudanças climáticas – que estão levando à intensificação das secas e ao aumento de queimadas. Reivindicaram diálogo com os povos e suas organizações para a construção de políticas públicas relativas ao clima, incluindo discussões sobre regulamentação do mercado de carbono e REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), com respeito ao direito de consulta livre, prévia e informada.
“Estão secando os poços. Moskow e São Domingos são comunidades afetadas pela falta de água. Há as queimadas que atingiram as roças, prejudicando nossas produções”, explica o coordenador da região Serra da Lua, César Silva.
A coordenadora das mulheres na comunidade da Barata, Jailda Teixeira, complementa: “Não está fácil. Estamos perdendo a produção, não temos macaxeira, banana, mandioca, goma, beiju. Isso tudo está acabando. A água tem sido racionada e a população é grande”.
Para fortalecer a produção das comunidades indígenas, o vice-coordenador do CIR, Enock Taurepang, anunciou o processo de criação de um fundo indígena, que deve atender as famílias e comunidades.
O Departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA) do CIR apresentou os 64 brigadistas que têm atuado no enfrentamento aos incêndios e os 120 agentes territoriais e ambiental (ATAI), que atuam na construção dos Planos de Gestão e estudo de caso das mudanças climáticas.
O evento foi realizado na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, um local histórico e sagrado que representa a luta dos povos pela proteção de seus territórios, da biodiversidade e do bem-viver.
A assembleia recebeu apoio da USAID por meio do projeto Nossa Terra, Nossa Mãe, implementado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em parceria com as comunidades. “Ficamos muito orgulhosos em apoiar essa visão incrível, esse espírito, essas ideias para conservar a preservar o meio ambiente”, diz o diretor da USAID, Mark Carrato, que participou do evento pela primeira vez.
O CIR é uma das maiores e mais consolidadas organizações indígenas brasileiras. Representa 270 comunidades em 35 TIs, com extensão de mais de 10 milhões de hectares e uma população de cerca de 55 mil indígenas dos povos: Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona, Sapará, Taurepang, Wai-Wai, Yanomami, Yekuana e Pirititi.
Formação – Em um dos dias do encontro, 18 estudantes indígenas do receberam certificados de conclusão dos cursos de bovinocultura, apicultura, fruticultura, beneficiamento de produtos e informática básica. “Estamos baseados em três pilares, representados pelas figuras da sabedoria (o livro), trabalho (a enxada) e paciência (o jabuti)”, diz o coordenador do Centro de Formação, Davison Blukey.
Ainda na área da educação, a assembleia discutiu a infraestrutura das escolas nas comunidades. “Até o final do ano vamos chamar os professores concursados. A educação escolar indígena é diferenciada, mas, ainda não temos pessoas preparadas para atuar nas salas de aula”, explica o diretor da Divisão Escolar Indígena, Leonardo Pereira.
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