Projeto-piloto criado por indígenas busca incrementar pecuária sustentável
Fevereiro, 2023 - “Isso é muito bom para todos nós. Vai servir de exemplo para outras comunidades e regiões, trazendo uma renda melhor e mais benefícios não só para um, mas para todos. Estamos bem animados”, diz Máximo Macuxi, um dos tuxauas (liderança indígena) da comunidade Lameiro, na Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol.
A comunidade onde ele nasceu e vive será agora sede de um projeto-piloto de capacitação para aprimoramento genético do rebanho bovino criado por comunidades indígenas em Roraima. A proposta é avançar no manejo do gado, incorporando as melhores práticas e treinamentos que fortaleçam a produção sustentável de carne orgânica.
“Por aqui ninguém planta capim. O gado come o que tem na natureza. Em Roraima, a vegetação predominante é o lavrado (vegetação aberta, do tipo savana). Fazemos o controle de outras questões ambientais, principalmente evitando o pisoteio do gado nas fontes de água e usando técnicas que permitem uma pecuária sustentável”, explica a gestora ambiental Sinéia do Vale Wapichana, coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
A pecuária sustentável é uma das ações desenvolvidas no projeto “Promovendo o Bem Viver dos Povos Indígenas em Roraima”, que tem o objetivo de apoiar a implementação de ações previstas na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). É desenvolvido pelo CIR juntamente com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e a organização Natureza e Cultura Internacional (NCI), com apoio da USAID/Brasil.
Nos anos 1980, antes da demarcação das Terras Indígenas no estado e quando a região sofria intensa invasão de garimpeiros, madeireiros e grileiros, foi desenvolvida a atividade pastoril coletiva. Ela acabou servindo como uma forma de gestão do território – onde houvesse boi das comunidades a área era tratada como indígena (leia mais aqui).
Segurança alimentar - O engenheiro agrônomo Giofan Mandulão, do povo Macuxi, que trabalha no Departamento Ambiental do CIR, destaca que as comunidades indígenas usam o gado não só para consumo próprio, garantindo a segurança alimentar, como para obter renda extra.
A criação do rebanho é feita de forma coletiva em cada comunidade, assim como a decisão sobre o destino do gado. “Decidimos em reuniões quando vamos matar uma rês para alimentação ou para festas, como Dia das Mães e dos Pais. É uma alegria. Mas também tem outras maneiras de uma rês ter o seu valor. Quando há uma pessoa doente, por exemplo, e não tem remédio na rede pública, decidimos matar uma rês e esse dinheiro é usado na compra desse medicamento. É uma forma de dar melhoria para a comunidade”, explica Máximo Macuxi.
A pecuária é uma tradição entre as comunidades indígenas de Roraima. “No projeto Bem Viver, estamos apoiando melhorias na produção de gado para minimizar impactos ambientais e melhorar, por exemplo, a comercialização e a qualidade do produto. Além da segurança alimentar, a carne serve como importante fonte de renda econômica para as comunidades indígenas”, diz Catherine Hamlin, diretora do Programa de Meio Ambiente da USAID/Brasil.
Assista ao vídeo do CIR que mostra capacitação realizada em 2022.