Território Médio Juruá: um novo caminho no fortalecimento das comunidades tradicionais

  • “A vontade é ficar na comunidade no Médio Juruá e lutar pelos projetos para melhorar a vida local. O foco é manter os jovens aqui, com consciência do seu papel e da história que temos a construir.” César Henrique Cunha, agente ambiental voluntário na comunidade São Raimundo (Carauari)

 

  • “O Médio Juruá tem uma organização muito bonita. Antes, as mulheres participavam só nos bastidores do processo de manejo do pirarucu. Agora está mudando. Estamos trabalhando o empoderamento e a autonomia financeira delas.” Quilvilene Figueiredo da Cunha, trabalha no processo de manejo sustentável do pirarucu selvagem na comunidade São Raimundo

 

  • “Antes, a gente ficava no escuro, sem conseguir continuar as atividades. Agora temos iluminação a noite toda, é tudo claro.” Francisca Figueiredo, moradora da comunidade Toari, uma das que receberam iluminação instalada com soluções alternativas

 

Esses depoimentos são de moradores de comunidades da região do Médio Juruá, na Amazônia, e refletem a realidade em que estão vivendo nos últimos anos. O território - de extrema importância ecológica por sua vasta área contínua de floresta tropical conservada - apresenta uma valiosa trajetória de esforços em prol do uso sustentável dos recursos naturais e do cuidado com a biodiversidade. Essas comunidades são de difícil acesso e estão localizadas no município de Carauari (1.676 km de Manaus por via fluvial).

O Programa Território Médio Juruá (PTMJ) atuou na região nos últimos três anos e neste mês de abril apresenta seus resultados. A iniciativa de desenvolvimento territorial envolveu uma ampla base de atores locais e parceiros externos para, de forma participativa e colaborativa, desenvolver e implementar projetos de conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida das populações locais.

Com apoio da USAID, dentro da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), da Natura e da Coca-Cola, o programa foi coordenado pela SITAWI em conjunto com os membros do Fórum Território Médio Juruá. Para a implementação, contou com a colaboração e trabalho de associações locais e regionais, como ASPROC, ASMAMJ, AMECSARA, FAS e AMARU.

Entre os resultados gerais de impacto, a iniciativa atendeu a mais de 2,5 mil moradores locais com melhorias socioeconômicas e contribuiu com o aprimoramento da gestão organizacional de quatro associações locais. Ajudou a conservar mais de 919 mil hectares, aprimorando a gestão territorial de áreas protegidas e comunidades do entorno, mostrando ser possível gerar impacto socioambiental positivo, envolvendo comunidades, associações, ONGs, poder público e empresas.

"A USAID acredita que o trabalho em parceria e o engajamento com o setor privado são fatores importantes na promoção do desenvolvimento sustentável, da conservação dos recursos biológicos e do bem-estar das comunidades na Amazônia. O PTMJ é um exemplo de sucesso de como a colaboração e a combinação de recursos, conhecimentos e tecnologias contribuíram para consolidar um modelo de gestão territorial integrado, sustentável e efetivo", diz Alex Araújo, gerente de projetos ambientais da USAID/Brasil. 

O coordenador local do PTMJ, Felipe Pires, da SITAWI, considera que a iniciativa foi bem-sucedida nessa etapa que terminou em janeiro de 2021 e destaca a construção de todo o processo de forma colaborativa e participativa.

“O fortalecimento do Fórum Território Médio Juruá, onde há a participação de vários atores locais, é um legado que possibilita o desenvolvimento de uma série de outros resultados, como a melhoria da gestão, o incremento da governança local, o empoderamento das mulheres e o trabalho dos jovens, por exemplo”, avalia Pires.

Resultados - Dentro do segmento de cadeias produtivas, foram implementados projetos como o manejo sustentável do pirarucu, uma das principais atividades econômicas da região. Envolveu 28 comunidades, proporcionando aumento na geração de renda e qualidade de vida das famílias.

Outra ação desenvolvida foi a de conservação de quelônios, contribuindo para a preservação de espécies representativas na região do Médio Juruá contra a caça ilegal e os efeitos danosos para o equilíbrio do ecossistema. Também houve o beneficiamento de oleaginosas, que impactou positivamente 38 comunidades, expandindo e aperfeiçoando a cadeia produtiva.

Visando fortalecer as comunidades locais foram desenvolvidos projetos como o fornecimento de energia elétrica (a maior parte da região não tem conexão com a rede de energia do município de Carauari e a maioria das comunidades tinha apenas cerca de três horas de energia por dia), o acesso à informação com a instalação de internet e atividades de empoderamento local, por meio de capacitações e empreendedorismo.

No final do ano passado também foi lançado o estudo Mudanças Climáticas e seus impactos na sociobiodiversidade do rio Juruá, com o objetivo de investigar os potenciais impactos das mudanças climáticas no ecossistema local e na vida da população no território. A análise buscou compreender a percepção das populações ribeirinhas e propor soluções estratégicas.