Viveiros de mudas – de onde brotam florestas e esperança para comunidades

Indígena trabalha em viveiro de mudas do projeto
Programa apoia restauração de vegetação nativa e educação ambiental

Maio, 2023 - A vazão da água foi diminuindo na nascente do Rio Pindaré ao longo dos anos decorrente da degradação da vegetação às suas margens. Isso preocupou moradores da Terra Indígena (TI) Krikati, localizada no município de Montes Altos, no estado do Maranhão. A água do rio é usada por indígenas para pesca e produção de alimentos. Desde o ano passado, um projeto de recuperação de áreas degradadas está ajudando a vida a voltar à nascente.

“Estamos restaurando a nascente com o plantio de mudas para que a água volte. Aos poucos, vamos conseguindo recuperar o local”, conta o indígena Airton Krikati, que há um ano trabalha como brigadista e também voluntário no viveiro de mudas da TI.

A comunidade em que Airton mora é uma das que estão participando do Edital de Recuperação de Áreas Degradadas e Recomposição de Vegetação Nativa em Terras Indígenas (leia mais aqui).

Indígena conversa com pesquisadoras às margens do rio Pindaré

A iniciativa faz parte do Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Fogo no Brasil, executado pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), com o apoio da USAID/Brasil, dentro da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB). É implementada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), USFS e com a colaboração do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A ideia é desenvolver e fortalecer, por meio de oito associações indígenas selecionadas, os conhecimentos, práticas e a educação ambiental em manejo integrado do fogo, além de promover trocas de experiências sobre viveiros de mudas e uso tradicional do fogo. Participam da iniciativa brigadistas indígenas, jovens, mulheres, anciãos e lideranças locais. 

O programa apoia as comunidades indígenas com equipamentos, meios de transporte, insumos para viveiros, entre outros itens. Brigadistas e voluntários desenvolvem atividades como a produção e o plantio de mudas nativas para a recuperação e proteção de áreas de nascentes, matas ciliares e sistemas agroflorestais. Eles também realizam a queima prescrita, técnica aplicada para a prevenção de incêndios florestais severos.

Outra participante da iniciativa, a brigadista indígena Talia Gavião, da TI Governador, no município Amarante, no estado do Maranhão, conta que entre as mudas produzidas no viveiro da comunidade estão as de sumaúma, localmente chamada de barriguda, uma espécie de árvore protegida e ameaçada que pode chegar a 70 metros (o equivalente a um prédio de 24 andares). 

Além de ser usada na medicina tradicional, a árvore é considerada sagrada por povos indígenas.

A indígena Talia segura nas mãos uma muda de árvore. Veste camiseta verde com a logomarca dos brigadistas
Os anciãos nos ensinam que ela puxa muita água. Também é aos pés dela que finalizamos a festa do luto em homenagem a um parente querido que se foi”,

diz Talia.

Em abril, uma equipe de representantes do USFS, da Funai e do Prevfogo/Ibama visitou as TIs Governador, Krikati, Porquinhos e Xerente para fazer avaliação do andamento das ações e promover intercâmbio entre representantes dos diferentes povos indígenas .

“Nosso objetivo foi entender como os projetos estão sendo implementados em cada uma das comunidades e, na medida do possível, juntamente a outras organizações, sugerir recomendações para melhorar o andamento. Fizemos intercâmbios entre representantes dos projetos, promovendo a troca de experiências, dificuldades e êxitos para que todos tenham oportunidade de aprimorar suas ações”, explica Ana Luiza Violato Espada, especialista em gênero e governança do USFS.

Aline Cavalcante, analista ambiental do Prevfogo/Ibama, destaca a participação das comunidades. “É notório e ao mesmo tempo gratificante observar o engajamento da comunidade no projeto. Vemos sua importância não apenas para o meio ambiente, mas também para a parte diretamente afetada da sociedade.”

O indígena Bruno Guajajara, que vive na TI Araribóia, foi um dos que tiveram a oportunidade de mostrar as práticas adotadas em sua comunidade para facilitar a germinação das sementes de algumas espécies para moradores da TI Porquinhos.

“Uma das coisas que chamaram a atenção no intercâmbio foi a forma de plantio, diferente da que usamos na nossa comunidade. As nossas mudas demoram mais para crescer”, diz Airton. 

Diversidade - As espécies de mudas cultivadas nos viveiros do projeto variam de acordo com a região, mas entre elas há embaúba, ipê, cedro, tamburi, buriti e açaí.

“Em nosso viveiro, fazemos o ‘berço’, local na terra onde colocamos as mudas. Acho muito bonito esse trabalho. Depois monitoramos para acompanhar o crescimento da planta. Antes era muito difícil porque não havia apoio. Agora, com o projeto, temos material, treinamento, e isso favorece a comunidade”, afirma Talia. 

No segundo semestre haverá visitas nos outros projetos selecionados. “Vimos a importância de a equipe ir à campo e prestigiar os projetos executados pelas pessoas que estão participando, dando mais credibilidade ao trabalho delas frente à comunidade. Foi importante também a participação de caciques e do engajamento comunitário, envolvendo mulheres, jovens, anciãos”, completa Ana Luiza.

Para Nathali Germano dos Santos, da Coordenação de Conservação e Recuperação Ambiental/Funai, as visitas técnicas proporcionam uma aproximação com as organizações e comunidades indígenas, além de promover maior articulação entre as instituições envolvidas na execução do edital. “Conhecer a realidade dessas iniciativas nos possibilita identificar melhor os desafios e as potencialidades de cada uma e, assim, nos orienta a potencializar cada projeto levando em conta as suas especificidades. Os trabalhos que estão sendo realizados demonstram a importância das/os brigadistas indígenas para as ações de restauração da vegetação nativa e, consequentemente, para o fortalecimento da gestão ambiental e para a promoção do bem viver nesses territórios.”

Além das próximas visitas, programadas para o segundo semestre, as organizações parceiras preveem a realização de mais encontros para a troca de experiências entre os projetos e a participação de representantes indígenas em eventos sobre restauração ecológica.