Brigada voluntária: uma rede solidária entre mulheres Xerente
Fevereiro, 2023 - Mulheres Xerente que participam da Brigada Indígena Voluntária Feminina se reuniram nos dias 19 e 20 de janeiro, em Tocantínia (TO), para trocar experiências e projetar caminhos para este ano. Elas decidiram criar um comitê que, além de estreitar o diálogo, pretende planejar as atividades de 2023.
O encontro, promovido pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) com o apoio da USAID/Brasil, foi realizado na Aldeia Cachoeirinha da Terra Indígena (TI) Xerente. Estiveram presentes representantes do USFS, do governo do estado de Tocantins, entre eles a secretária de Estado dos Povos Originários e Tradicionais, Narubia Werreria Karajá, e 15 brigadistas mulheres da TI.
As mulheres avaliaram, entre os resultados obtidos até 2022, que a brigada voluntária se tornou um espaço de trocas e de empoderamento, que vem resultando em uma rede solidária entre elas. Em partes da reunião, as mulheres falaram na língua materna.
As Xerente foram as primeiras a formar uma brigada exclusivamente feminina, em 2021, durante o “Curso de Formação de Brigada Voluntária para Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais”, ministrado pelo Prevfogo/Ibama em parceria com o USFS, ABIX e Funai-TO.
A USAID/Brasil apoiou a atividade dentro do Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Fogo do Brasil (conheça mais aqui). Este programa visa fortalecer agências do governo federal brasileiro (ICMBio, Funai e Ibama) e organizações não-governamentais para implementar de forma eficaz o Manejo Integrado do Fogo em larga escala em áreas protegidas da Amazônia.
Multidisciplinar - Além de atuar em incêndios florestais, a Brigada Voluntária Feminina Xerente participa de atividades de educação ambiental nas comunidades e nas escolas, da coleta de sementes, produção de mudas e plantio e trabalha com a queima prescrita e controlada na região.
Para executar as tarefas, as mulheres se dividem por funções. Não há uma hierarquia de comando na brigada, mas duas delas – Ana Shelley Xerente e Katiane Xerente – já vinham exercendo papel de liderança.
Com a criação do comitê executivo, elas foram as indicadas das indígenas para compor o quadro juntamente com Ana Violato Espada e Helaine Matos como representantes do USFS.
O comitê também buscará novas parcerias e apoio para o desenvolvimento das atividades do grupo, além de detalhar o plano de trabalho, que deve incluir cursos para a formação continuada das brigadistas e intercâmbio com as mulheres indígenas Apinajé (leia mais aqui).
Com uma cobertura vegetal predominantemente de savana-floresta, uma das características do ecossistema é conviver com períodos com fogo, por isso a necessidade de manter brigadistas indígenas treinados para evitar e controlar, se necessário, os incêndios.
Geralmente, a participação feminina é difícil pelo fato de algumas delas não conseguirem conciliar os trabalhos domésticos, de cuidado com os filhos e da produção do artesanato aos da rotina na brigada. Das 29 mulheres formadas como brigadistas voluntárias em 2021, atualmente 20 estão mais atuantes. No caso da participação em cursos online, outra questão relatada são as dificuldades de acesso à internet nas comunidades.
“A gente se multiplica para ser o que queremos, para se sentir mulher. Eu sou professora de educação infantil na aldeia, trabalho na roça, jogo bola, sou mãe de dois meninos e sou brigadista voluntária”, conta Rosineide Xerente, que esteve na reunião.
A TI Xerente está localizada no município de Tocantínia, estado do Tocantins, na Amazônia Legal. Com área de 183 mil hectares, abriga uma população de cerca de 4.000 indígenas, distribuídos em mais de 100 aldeias do povo Akwẽ (Xerente).