Série Mulheres da Amazônia
Agosto, 2023 - Melhorar as condições de trabalho para que mulheres que tiram sustento do mangue obtenham mais renda. Capacitá-las e estimular a participação em organizações locais para evitar intermediários e melhorar os preços pagos por caranguejos. Estimular programas de conscientização para conservar os manguezais e sua biodiversidade. Esses são alguns focos da líder comunitária Alessandra Santos em sua atuação nas entidades das quais participa.
Moradora da Reserva Extrativista Marinha de Soure, no estado do Pará, Alessandra é a segunda tesoureira da Associação dos Usuários da Resex de Soure (Assuremas), faz parte do Conselho Deliberativo da reserva e atua como primeira-secretária da Associação de Caranguejeiros e Caranguejeiras de Soure.
Além disso, em maio participou pela primeira vez do fórum da rede Mães do Mangue – grupo criado em 2020 para valorizar a participação feminina tanto em atividades ligadas à pesca artesanal nos mangues como no monitoramento das espécies e das áreas de conservação.
O Mães do Mangue é parte do projeto Pesca para Sempre, implementado pela organização não-governamental Rare Brasil e que trabalha com 12 comunidades e suas associações. Conta com o apoio da USAID/Brasil, por meio do Enraíza PPA: Por Amazônias Sociobiodiversas & Sustentáveis, uma realização da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e da Aliança Bioversity/CIAT.
Alessandra conta que o fórum foi um espaço importante para troca de experiências e fala dos desafios das caranguejeiras.
Quais os aprendizados que vocês tiveram no fórum das Mães do Mangue?
Alessandra - Fomos em seis mulheres representando Soure e o resultado foi muito bom. O encontro foi maravilhoso porque permitiu uma troca de experiência sobre artesanato, óleos, trabalho no manguezal. Uma das coisas que me chamou atenção foi a diversidade da produção em outras reservas. Aqui em Soure, por exemplo, as mulheres trabalham com as oleaginosas, principalmente andiroba e tucumã. Mas em outras regiões elas mostraram que tiram óleo de pupunha, de babosa e de uma infinidade de outras plantas. Foi uma troca imensa de conhecimento.
Como melhorar as condições de trabalho das mulheres que atuam no mangue?
Alessandra - Temos um projeto que é a criação de uma unidade de beneficiamento da polpa do caranguejo. Estamos quase conseguindo. Com essa unidade de beneficiamento podemos pagar melhor para os caranguejeiros e caranguejeiras comprando o crustáceo direto do trabalhador, sem passar pelos marreteiros (espécie de intermediário na cadeia de comercialização). Não queremos tirar os marreteiros do trabalho deles, mas sim melhorar a situação dos nossos extrativistas. Além disso, podemos comprar a produção excedente, que nem sempre o marreteiro compra. As catadoras têm também um sonho de conseguir construir cozinhas equipadas, que atendam às exigências sanitárias para conseguir vender mais a carne do caranguejo, como aconteceu com o açaí.
Vocês trabalham com os clubes de poupança? Como funcionam?
Alessandra - Sim, criamos clubes em seis comunidades do município. Com eles, as mulheres fazem o curso e aprendem a poupar um pouquinho do seu dinheiro. Temos uma espécie de cofre, uma coordenadora, a tesoureira e a secretária. Há a contribuição coletiva, dividida por todas, e a individual, feita por meio da "compra" de selos estampados com um desenho de caranguejo. Um exemplo, se a mulher tem R$ 50 ela compra cinco selos e o dinheiro fica no cofre. Quando chega a data de abrir, cada uma vê quanto conseguiu poupar. A intenção é ensinar a poupar para ter uma reserva.
Qual tem sido o papel das associações locais?
Alessandra - Têm ajudado muito. Temos feito um trabalho de conscientização das mulheres para tirá-las da invisibilidade e tentar fazer com que o trabalho seja reconhecido.
E a questão da conservação ambiental, como vocês trabalham?
Alessandra - Promovemos mutirões, reuniões, palestras, para sensibilizar e conscientizar pela conservação. É do mangue que muitas famílias tiram o sustento, por isso precisamos conscientizar todos que a gente não deve destruir, mas sim conservar. Temos conseguido manter o nosso mangue em pé.
Qual mensagem você procura transmitir para as mulheres?
Alessandra - Que elas não devem desistir na primeira barreira que aparecer. Elas têm que procurar ajudar os maridos, a família. Eles se ajudando vão ter um futuro melhor. A união faz a força. Não quero fazer alguma coisa sozinha porque, ao me juntar a um grupo de mulheres, o resultado é muito melhor. A rede Mães do Mangue está mostrando isso.
Série - Ao longo de 2023, o informativo da PCAB vai trazer histórias de luta e sucesso de mulheres contadas por elas mesmas. São indígenas e ribeirinhas que trabalham e contribuem para o desenvolvimento de suas comunidades tradicionais, moradoras de áreas de proteção da floresta amazônica com toda sua diversidade ecológica e social.