Série Mulheres da Amazônia

A nova coordenação da COAPIMA (da direita para a esquerda): Marcilene Guajajara, Maria Helena Gavião (vice-coordenadora), Ricardo Kanela (tesoureiro) e Danilo Guajajara (secretário)
Exercendo papel de liderança, Marcilene Guajajara busca gerar oportunidade a outras mulheres e jovens indígenas

Abril, 2023 - “Nosso papel como representante do movimento indígena é de articulação, de fortalecimento das organizações, de cobrança de políticas públicas e de defesa dos direitos dos nossos povos”, afirma a líder indígena Marcilene Guajajara, recém-eleita coordenadora-geral da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA). 

Participando da organização há sete anos, Marcilene foi eleita por unanimidade durante assembleia realizada em março na aldeia São José, na Terra Indígena (TI) Krikati, com a participação de cerca de 500 indígenas. 

Para ela, além de atender a diferentes demandas dos 11 povos indígenas do estado, o estímulo à participação de outras mulheres e jovens está entre os desafios à frente da organização, além da ampliação do alcance dos projetos nos próximos três anos. No Maranhão, são 17 TIs.

“Tivemos uma experiência muito positiva no projeto com a USAID, em parceria com o CTI e o ISPN. Discutimos juntos os critérios  que deveriam ser aplicados para que fosse mais fácil os indígenas terem o acesso. E deu certo”, conta Marcilene, que vive na aldeia Maçaranduba, na TI Caru.

O projeto é o Gestão Ambiental e Territorial Integrada de Terras Indígenas na Amazônia Oriental, que contou com o apoio da USAID/Brasil e foi realizado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), juntamente com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Teve a parceria da COAPIMA, da Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins e da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA). 

Mãe de cinco filhos e primeira mulher a ser cacique de sua aldeia, atualmente Marcilene cursa licenciatura em  Ciência da Natureza na Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e conta o desafio de conciliar todas as tarefas.

Como você começou a trabalhar na organização indígena?
Marcilene - Em 2016, participei pela primeira vez de uma assembleia da COAPIMA. Em 2019, fui vice na coordenação, onde estou desde então. Neste ano, as lideranças me procuraram e disseram que meu nome foi bem aceito. Para mim foi muito difícil tomar essa decisão porque estou há praticamente nove anos à frente da coordenação. Tenho minha família que depende muito de mim, minha faculdade, por isso tive que avaliar e ver o que realmente seria mais viável. Fui eleita por unanimidade.

Como você concilia a família, os estudos, as tarefas na COAPIMA e a luta indígena?
Marcilene - Fico dividida. Quando venho para casa, não consigo matar a saudade dos filhos, que é grande, mas aí acabo entendendo que tem outros indígenas que precisam da gente. Na universidade vivo um pouco da nossa luta porque temos de explicar para algumas pessoas, que muitas vezes não têm conhecimento, como os indígenas conseguem suas conquistas. Isso gera um grande debate. É algo novo ver um grupo de indígenas na universidade, mas precisamos estar ali. Ocupar os espaços é importante.

Quais seus projetos para os próximos três anos na COAPIMA?
Marcilene - Temos muitos projetos em andamento. Alguns coordenadores eleitos estão começando e será preciso fazer uma reunião de planejamento, uma formação básica para que eles entendam a gestão de uma organização. Isso é  um desafio. Também precisamos olhar para os indígenas que vivem em todas as regiões do Maranhão. Temos os indígenas que vivem em contexto urbano e precisam de atendimento à saúde, de educação. Há os povos isolados que têm outras necessidades. E aí essas responsabilidades vêm para gente também para, de alguma forma, poder ajudar nossos povos.

Como os projetos ajudam as comunidades?
Marcilene - Tivemos uma experiência muito positiva no projeto com a USAID, em parceria com o CTI e o ISPN. Quando começamos, pensamos em um projeto para abranger não só um território, mas todo o Maranhão porque as desigualdades eram grandes. Alguns povos eram bem necessitados. Discutimos os critérios para que fosse mais fácil os indígenas terem acesso e deu certo. Voltando a alguns territórios onde não havia nada, tive o prazer agora de conhecer os resultados para a segurança alimentar e geração de renda, como a criação de galinhas, as plantações de mandioca, as casas de fabricação de farinha e até um açude para fornecer água. Fiquei muito feliz em saber que contribuí com alguma coisa ali.

Qual mensagem você deixa a outras mulheres?
Marcilene - Se nós não sairmos para conhecer a realidade, a luta como ela realmente é, a gente nunca vai aprender. E o nosso papel enquanto mulher não é só estar na cozinha, como muitos homens ainda dizem para suas esposas. O nosso papel é estar onde e como a gente quer. 

Série - Ao longo de 2023, o informativo da PCAB vai trazer histórias de luta e sucesso de mulheres contadas por elas mesmas. São indígenas e ribeirinhas que trabalham e contribuem para o desenvolvimento de suas comunidades tradicionais, moradoras de áreas de proteção da floresta amazônica com toda sua diversidade ecológica.