‘Cadeias de Valor’ dá suporte a entidades para elaboração de planos estratégicos
Junho, 2022 - O Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) e mais três cooperativas instaladas no município de Porto de Moz, no Estado do Pará, estão elaborando neste ano seus planos estratégicos de médio e longo prazo dentro do projeto “Promoção de Cadeias de Valor Sustentáveis e Gestão Territorial e Ambiental de Áreas Protegidas”, apoiado pela USAID/Brasil.
O objetivo é fortalecer o papel de liderança das instituições que atuam na unidade de conservação de uso sustentável Verde para Sempre, a maior reserva extrativista (Resex) do Brasil, criada em 2004, com 1,2 milhão de hectares na floresta amazônica.
O “Cadeias de Valor” oferece suporte ao processo de articulação coletiva, dando oportunidade de focar as ações em instituições que já estão avançadas na estrutura organizacional, permitindo assim que elas sigam desenvolvendo e aprimorando as atividades nas cadeias sustentáveis produtivas, entre elas a do manejo florestal sustentável.
“O projeto busca o fortalecimento organizacional para que as entidades assumam o protagonismo em todas as etapas do manejo madeireiro. A região da Verde para Sempre sofre muita pressão pela riqueza da biodiversidade. Ainda há madeireiras na região que se oferecem para fazer tudo e pagar à comunidade, mas elas acabam ficando com a maior parte do lucro. Nossa luta é para que as associações locais acumulem a prática necessária para todas as atividades da cadeia e empoderem os próprios moradores. Isso gera renda e fortalece o processo de organização” explica Alisson Castilho, coordenador do programa Territorialidades, Florestas e Comunidades do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), onde está inserido o “Cadeias de Valor”.
Apoiado pela Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), o projeto trabalha com a conservação da biodiversidade de áreas protegidas e na promoção do bem-estar e da autonomia de comunidades indígenas e tradicionais. É implementado pelo IEB com o apoio técnico do Serviço Florestal dos Estados Unidos, além de uma rede de parceiros, incluindo o governo federal brasileiro por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Castilho afirma que entre 2020 e 2021 os moradores que atuam na reserva Verde para Sempre enfrentaram muitas dificuldades, com o fechamento das Resex. A partir deste ano, com a retomada integral do trabalho, os técnicos estão refazendo o mapa das organizações que atuam no manejo florestal sustentável.
Além do CDS, estão montando seus planos estratégicos a Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Médio Rio Jaurucu (Coopamj), a Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra) e a Cooperativa Mista Agroextrativista Floresta Sempre Viva Três Rios (Comar).
O empoderamento comunitário para o manejo florestal por meio das organizações locais contribui como uma das estratégias eficazes para o combate ao desmatamento da Amazônia. Isso porque incentiva de forma direta a extração de madeira legal, que só pode ocorrer após o cumprimento de diversos critérios técnicos visando garantir a conservação e a reprodução da biodiversidade florestal.
Há experiências exitosas nesse sentido em países como Guatemala, Costa Rica e México, sendo que alguns projetos começaram na década de 1970.
Além de ser a maior Resex do Brasil, a Verde para Sempre é estratégica porque detém 60% de todos os planos de manejo florestal aprovados para a Amazônia atualmente.
A cadeia - O manejo florestal sustentável vem ganhando cada vez mais importância como uma alternativa socioeconômica para o desenvolvimento e a defesa dos territórios comunitários nas reservas extrativistas. É uma forma de substituir a dependência de produtos primários com baixo valor agregado e forte atuação de atravessadores. Por isso, a importância de melhorar a gestão das atividades e a governança destes territórios.
A cadeia demanda aporte técnico e assessoria especializada para as ações de manejo, já que todas as etapas requerem autorizações e monitoramento constante, com fiscalizações do ICMBio. Para iniciar as atividades é necessário licenciamento, que inclui o chamado inventário florestal (com a delimitação da área para exploração de madeira é feito um levantamento de todas as espécies de árvores no local).
Após o inventário, é definido o percentual de anual autorizado para extração. O processo de exploração trabalha com a resiliência da floresta e sua capacidade de se regenerar ao longo dos anos. Na Verde para Sempre são quatro planos de atividade exploratória em vigor, entre eles o da Coomnspra, que atua desde 2007.
Foi por meio da Coomnspra que manejadores do município conseguiram pela primeira vez captar recursos em banco para financiar a produção, evitando a dependência de intermediários e garantindo maior autonomia na gestão do plano de manejo sustentável da floresta (leia mais aqui).
“Essa é uma cadeia de longo prazo, com autorizações por até 40 anos. O tempo de atividade na cadeia faz com que o processo de fortalecimento das organizações tenha que ser contínuo, até mesmo para garantir a renovação de lideranças. Sem essa continuidade, há o risco de perder anos de esforço realizado”, completa Castilho.
Mais informações no site do IEB.