Primeiros resultados do TerraBio mostram impacto na biodiversidade em negócios do ABF
Outubro/Novembro, 2024 – Resultados dos dois primeiros ciclos de monitoramento do Terrabio apontam impactos mistos na biodiversidade de projetos que receberam financiamento do Amazon Biodiversity Fund. O ABF é um fundo privado, com o Impact Earth atuando como advisor, cuja proposta é investir em projetos com impacto social e ambiental na Amazônia Legal (saiba mais aqui). Apesar de estar no início e em processo de construção, alguns resultados mostram, por exemplo, um aumento na similaridade em comunidades de insetos e maior captação de carbono pela vegetação em áreas que estão sendo restauradas. Até 2023, cerca de 5.000 hectares foram monitorados.
Desenvolvido pela Aliança Bioversity & CIAT, Spatial Informatics Groups (SIG) e USAID, o TerraBio é uma ferramenta que integra tecnologias de ponta na análise de dados geoespaciais com DNA ambiental para avaliar vários modelos de uso da terra e investimento em termos dos seus impactos relativos na biodiversidade. Consiste em uma abordagem de monitoramento, reporte e verificação para gerar evidências sobre os impactos ambientais das operações de negócios sustentáveis das empresas financiadas pelo ABF.
A metodologia tem sido utilizada para avaliar quatro empreendimentos, todos diferentes em relação aos produtos, geografias e atividades. São eles: Horta da Terra (empresa que produz plantas alimentícias não-convencionais da Amazônia), Café Apuí (Amazônia Agroflorestal, que envolve produtores rurais na recuperação de áreas degradadas a partir de sistemas agroflorestais com café), Inocas (com foco na produção de macaúbas em sistema agrossilvipastoril, como uma fonte alternativa de óleo vegetal) e AgroVerde/ReforesTerra (que trabalha no reflorestamento de 2.000 hectares de áreas de proteção permanente em pequenas propriedades rurais em Rondônia).
A equipe da Aliança Bioversity & CIAT está terminando o terceiro ciclo de coleta e análise dos dados do Terrabio. Os relatórios dos dois primeiros anos foram apresentados em agosto para os responsáveis pelos projetos, para o gestor do fundo e para a USAID.
Os impactos dos primeiros projetos financiados pelo ABF são variados. O fundo visa impactos transformacionais na biodiversidade, no clima e nos aspectos sociais que se materializarão a médio e longo prazo. As implementações das áreas de intervenção estão no início e os resultados dão uma linha base que permitirá comparação dos impactos das intervenções em breve. Para a cientista sênior de Paisagens Multifuncionais da Aliança Bioversity & CIAT, Wendy Francesconi, até agora os resultados estão dentro do esperado.
“O progresso é devagar. Os sistemas sustentáveis estão sendo implementados e se estabelecendo, por isso é cedo para gerar as condições habilitantes que resultem no uso das áreas restauradas por espécies florestais. Todos os projetos do fundo ABF estão em período de investimento e implementação das intervenções. Sabemos que no futuro poderemos identificar impactos de diferentes tipos, para os variados modelos de negócio e de espécies. O importante é seguir esse progresso de monitoramento e avaliação ao longo do tempo”, explica Francesconi, que foi responsável pelo desenvolvimento e aplicação do TerraBio.
Os casos – O Horta da Terra e o Café Apuí já têm os resultados de dois ciclos de monitoramento (2022 e 2023). Quando comparados, mostraram um aumento na semelhança da comunidade de espécies de insetos (e outros artrópodos) nas áreas de intervenção do projeto com as regiões da floresta. Os valores totais de sequestro de carbono também foram maiores durante o segundo ano de monitoramento, comprovando o estabelecimento e crescimento de parcelas agrícolas sustentáveis e atividades de restauração nas áreas de restauração.
No entanto, alguns dos outros indicadores estimados – como os números de riqueza de espécies – parecem ter diminuído do primeiro para o segundo ano nos dois projetos, além das áreas restauradas e a conectividade na paisagem no Horta da Terra.
A Inocas e o ReforesTerra receberam os resultados do primeiro ano de avaliação do Terrabio. Nesse caso, o primeiro ano de intervenção serve como linha base para o monitoramento ao longo do tempo, enquanto as áreas de pastagem e floresta funcionam como referência para comparar as comunidades de insetos.
Segundo Jânio César Rosa, gerente da Inocas, a empresa pretende incorporar os resultados no negócio. “Estamos bastante animados com os resultados que teremos nesse segundo ano. Sabemos que ainda não haverá um incremento significativo de biodiversidade pelo fato de a muda de macaúba estar muito jovem, em início de desenvolvimento. Aguardamos os resultados do nosso plantio mais antigo, que foi coletado em 2023 e neste ano. Pretendemos incorporar os resultados ao nosso projeto, que já tem foco na sustentabilidade, e depois queremos divulgar esses indicadores, mostrando o que foi incrementado em biodiversidade.”
As coletas de 2024 estão quase finalizadas, com as análises geoespaciais e de laboratório em andamento. Em breve será possível ver os resultados do terceiro ano das mesmas iniciativas. Francesconi explica que nos próximos anos a aplicação do TerraBio será repetida nos mesmos locais e nos novos projetos do fundo.
“É uma aplicação sistematizada, com métricas que estão padronizadas ao nível de portfólio, podendo comparar qual será o impacto do fundo para o meio ambiente. De forma geral, os resultados geoespaciais ajudam a monitorar a implementação das atividades no solo, e os de biodiversidade contribuem com a avaliação dos impactos dessas atividades na distribuição de espécies na paisagem. Estamos passando de uma aplicação de negócio a negócio de maneira padronizada para a análise a nível de portfólio de maneira harmonizada”, explica a cientista sênior.
Os próximos passos incluem analisar quais outras aplicações a metodologia pode ter para a ecologia de maneira geral: “Queremos fazer mais com os resultados, com os dados que estamos coletando, porque estamos gerando informação muito valiosa e que pode ser uma contribuição grande nessa área de conhecimento, que é o monitoramento de biodiversidade com e-DNA. A gente quer fazer alguns estudos da ecologia que está refletida nos resultados, para entender um pouco mais da distribuição das espécies nas diferentes áreas onde a gente coleta, que seria basicamente a distribuição das espécies na paisagem e as preferências no uso da terra”, finalizou Francesconi.