Povos indígenas de Roraima celebram 50 anos de movimento em defesa de seus direitos
O ano de 2021 começaria com festa para os povos indígenas de Roraima, pois janeiro marcou os 50 anos da primeira assembleia dos tuxauas (líderes indígenas) em defesa de seus direitos, que culminou na fundação do CIR (Conselho Indígena de Roraima).
A pandemia de COVID-19, que ainda afeta gravemente a população de estados da Amazônia, mudou os planos, mas não a determinação de comemorar a data, com grande simbologia para esses povos.
“Será um momento de reflexão sobre a história da nossa organização, como ela foi construída. Vamos fazer uma celebração com espírito de manter a resistência, a união dos povos indígenas. E também ter um olhar para o futuro, pensando em como estaremos daqui a 50 anos”, resume Edinho Batista de Souza, do povo Macuxi e coordenador-geral do CIR.
Luta - É exatamente essa resistência a pressões sobre o território e a floresta que a entidade vem considerando como um dos principais desafios atualmente na região. As Terras Indígenas (TIs) no estado sofrem com o avanço do garimpo ilegal, que provoca destruição ambiental e conflitos. Além disso, há ainda o crescente interesse de madeireiros e grileiros que visam a derrubada de árvores e abertura de áreas para plantio.
Somente na TI Raposa Serra do Sol, área de 1,7 milhão de hectares onde vivem 26 mil indígenas de cinco povos (Macuxi, Wapichana, Patamona, Sapará e Ingarikó), o CIR estima que no ano passado o número de garimpeiros ilegais dobrou. Além da preocupação com a contaminação da flora e da fauna por mercúrio, o garimpo ameaça a forma de viver das comunidades.
Em meio a esse cenário, Souza destaca a importância do projeto Promoção do Bem-Viver da População Indígena no Estado de Roraima, desenvolvido no âmbito da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB). Implementado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Nature and Culture International (NCI) e CIR, o projeto visa promover a governança e a gestão territorial e ambiental das TIs no Estado.
Além da implementação da Política Nacional da Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI), a “Promoção do Bem-Viver” prevê também o fortalecimento institucional do CIR e a estruturação de práticas sustentáveis da pecuária indígena, introduzida pelas comunidades da região há mais de quatro décadas.
“Nossa luta é para manter os direitos conquistados e garantir acesso a políticas públicas”, completa Souza.
Para tentar controlar as atividades ilegais nas TIs, as comunidades têm montado postos de vigilância, que também ajudaram como medida sanitária por causa da COVID. Em 2020, o CIR formou uma força-tarefa para enviar cestas básicas, EPIs e produtos de higiene às aldeias, com o objetivo de evitar que os indígenas se deslocassem até as cidades onde ficam mais expostos ao novo coronavírus.
Juventude - Além de homenagear lideranças que construíram o CIR, as comemorações do cinquentenário da organização terão como foco os jovens indígenas dos 10 povos que vivem nas 35 TIs. “Queremos que as celebrações tragam uma contextualização para que a juventude entenda nosso processo de luta e continue nossa história”, diz o coordenador.
Neste ano, o CIR continua a fortalecer o núcleo da Juventude Indígena, atualmente sob a responsabilidade de Alcebias Mota Constantino, do povo Sapará (conheça a história dele aqui). Alcebias é filho da pajé Mariana Mota (Sapará) e de Alcides Constantino, do povo Macuxi. O casal está entre os anciãos homenageados pelos 50 anos da entidade.
Também receberão homenagens pelo povo Macuxi Jacir de Souza Macuxi, Nelino Galé, Valdir Tobias, Terencio Macuxi, Orlando Pereira, Tedir Macuxi e Lavínia Macuxi; e pela etnia Wapichana, Clóvis Ambrósio.
Um dos destaques será a lembrança da história do tuxaua Gabriel Macuxi, que ainda jovem, no início dos anos 1960, ajudou a formar os conselhos comunitários e regionais, que passaram a enfrentar juntos os problemas de invasão, violência e os danos causados pelo consumo de bebidas alcoólicas levadas pelos invasores.
Conheça mais sobre o CIR no “Informativo Anna Yekaré”, que em março teve uma edição especial do jubileu da entidade (mais informações aqui).