Pesca do pirarucu no Médio Juruá é um empreendimento coletivo

Etapas do manejo são feitas de forma participativa e transparente

Agosto, 2023 – É por meio de uma organização coletiva que a pesca do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo, é planejada e realizada todos os anos, em meados de setembro, em comunidades do Território Médio Juruá. 

Durante esses encontros, manejadores, organizações de base comunitárias, técnicos, pesquisadores e parceiros sociais da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) avaliam todas as etapas do manejo do ano anterior e iniciam o planejamento das fases da safra atual. Entre elas estão o plano de proteção territorial e vigilância dos ambientes aquáticos, custos e receitas do manejo, estimativa da capacidade produtiva em relação à contagem da quantidade de peixes nos lagos e a organização de cada comunidade para a pesca.

A quantidade de peixes que cada comunidade pode pescar para comercialização depende do limite (cota) determinado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a partir da contagem feita no ano anterior. A ASPROC lidera o arranjo comercial inovador criado para comercializar o pescado por meio da marca coletiva própria, a Gosto da Amazônia. 

Neste ano, mais de 230 pessoas participaram da reunião de avaliação e planejamento do manejo dos lagos do Médio Juruá, realizada na base da comunidade Bauana, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari.  

O encontro busca garantir as condições necessárias ao uso sustentável dos recursos naturais para geração de renda às famílias ribeirinhas da região e é fundamental para que o manejo do pirarucu se fortaleça cada vez mais no território. Outro objetivo é fazer com que as etapas do manejo ocorram de forma participativa, transparente e eficiente. 

“A reunião é para que todas as comunidades tenham ciência do que está acontecendo e para discutir juntos, com o planejamento decidido coletivamente. Isso é o mais importante. E é um evento que é muito esperado por todos os manejadores e manejadoras, para colocarmos nossas exigências. Um bom planejamento para esse trabalho é de suma importância para todo mundo. É para a gente determinar datas, se organizar da melhor forma possível, para que seja um trabalho diferenciado para beneficiar todos e todas”, diz José Alves de Moraes, conhecido como Silas, manejador de pirarucu da comunidade Lago Serrado.

Além disso, foram discutidos assuntos como a rastreabilidade do pirarucu de manejo sustentável, o projeto de exportação do pirarucu e as perspectivas de obtenção de selo por comércio justo. 

Parte da estratégia de fortalecimento da cadeia produtiva do pirarucu recebe apoio da USAID/Brasil. Conta com o Programa Território Médio Juruá (PTMJ), uma iniciativa de desenvolvimento territorial coordenada pela Sitawi Finanças do Bem que já apoiou mais de 3 mil pessoas e conservou 1 milhão de hectares. Além da USAID, o PTMJ tem a parceria da Natura, Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Aliança Bioversity & CIAT, e suas ações são implementadas por organizações locais.

Também incluiu o projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, que teve a coordenação do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com a participação de outros parceiros. 

Atuação - O Coletivo do Pirarucu,  que une diversas iniciativas de manejo sustentável no estado do Amazonas para articulação conjunta de estratégias de valorização e fortalecimento da cadeia, também realizou sua primeira reunião do ano, em formato virtual, para discutir temas ligados aos preparativos da temporada da pesca. Participaram mais de 50 pessoas representando 18 organizações.

Na reunião, foi apresentado o levantamento dos números previstos para 2023 – até novembro, estima-se que serão pescados 34.589 pirarucus, envolvendo diretamente 3 mil pessoas em diversas comunidades manejadoras do Amazonas (leia mais aqui).