Mês do Orgulho LGBTQIA+: A luta para ser reconhecido

Jovens que vivem no Médio Juruá contam os desafios para vencer o preconceito

Junho/Julho, 2023 - Aos 20 anos, Fabrício Carvalho, morador da comunidade Roque, no Médio Juruá, tem um sonho: se formar no curso de Tecnologia em Gestão de Turismo e viajar por vários lugares do mundo. Acabou de ser aprovado no vestibular e deve se mudar da comunidade para o município de Carauari, no estado do Amazonas. 

Mas o caminho até aí foi cheio de desafios. Morando no Roque, comunidade localizada em reserva extrativista onde se chega apenas de barco depois de uma viagem de horas saindo da cidade, Fabrício foi aos poucos assumindo sua homossexualidade, porém enfrentou preconceitos e até homofobia. 

"Quando era adolescente, havia pessoas que usavam linguagem distorcida para se referir aos homossexuais e faziam comentários jocosos. Isso era muito dolorido para mim", conta. O jovem lembra que foi difícil mudar a visão até mesmo dentro de sua própria família. "Nunca cheguei a dizer claramente para os meus pais que sou gay, mas eles sabem e me aceitam. Minha mãe me ajudou muito a ser reconhecido como sou e a mudar a forma de outros me verem em casa", diz.    

Os pais trabalham no manejo sustentável do pirarucu e produzem alimentos para consumo próprio em sua roça, onde Fabrício também chegou a trabalhar. O pai participa da equipe da comunidade que faz a contagem do peixe nos lagos, atividade que serve de base para estabelecer a cota a ser pescada para comercialização. 

Práticas como essa permitem a conservação da espécie e geram renda para os ribeirinhos. Recebem apoio da USAID/Brasil, por meio de programas como o Território Médio Juruá (PTMJ), uma iniciativa de desenvolvimento territorial coordenada pela Sitawi Finanças do Bem, que já apoiou mais de 3 mil pessoas e conservou 1 milhão de hectares. 

O PTMJ tem como parceiros a Natura, a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e a Aliança Bioversity & CIAT, e suas ações são implementadas por organizações locais. "Os projetos apoiam as comunidades e são uma oportunidade para melhorar nossa renda e ampliar nosso conhecimento", afirma o jovem.

Porém Fabrício se recorda que não tinha aptidão para trabalhar na roça nem no manejo. "Eu não tinha jeito, como meus irmãos, para ir para o plantio. Gostava mais de arrumar a casa e brincar de bonecas. Por isso, eu era motivo de chacota e essa fase foi desafiadora".

E completa: "Passei a infância e adolescência em meio à floresta, vivendo às margens do rio Juruá e aprendi muito. Mas por causa da minha sexualidade acabava me autossabotando. Agora que passei no vestibular, consegui provar para mim mesmo que sou capaz". 

Fabrício contou com o apoio do amigo Rodrigo Carmino, também homossexual, que já tinha enfrentado preconceito parecido na mesma comunidade. "Minha infância toda passei me sentindo solitário porque os meninos faziam brincadeiras que eu não gostava e as meninas nem sempre ajudavam. No início da descoberta da homossexualidade até evitava sair de casa e lia muito nesta época. Aos 17 anos me mudei para a cidade e consegui apoio para me assumir", relata Rodrigo, que hoje aos 26 anos cursa Pedagogia do Campo, com foco na formação de professores do campo.

Foi quando voltou a morar na comunidade que Rodrigo ajudou Fabrício. "O recado que dou aos jovens vítimas de preconceito é que se permitam ser eles mesmos, abertamente e livremente, sem receio de sonhar".

Em junho, quando se comemora o Mês do Orgulho LGBTQIA+ em todo o mundo, passeatas e atos são realizados em vários locais para marcar a luta do movimento por liberdade, respeito e segurança.

Card mostra desenho representando pessoas segurando bandeiras coloridas e a frase Mês do Orgulho

A USAID está comprometida em defender o  desenvolvimento inclusivo que gere equidade para indivíduos LGBTQI+ visando uma vida com dignidade e livre de todas as formas de violência, discriminação, estigma ou criminalização.

Fabrício diz que muitas vezes jovens no Médio Juruá têm receio em assumir sua sexualidade. "A mensagem que deixo é: 'Não tenham medo'. Mesmo que seus pais não aceitem, o importante é a gente mesmo se aceitar e ser feliz".