Material reciclável vira iluminação para comunidades ribeirinhas do Médio Juruá

Sem acesso à rede elétrica, comunidades ribeirinhas do território Médio Juruá, no Amazonas, ainda dependem, em muitos casos, de geradores para garantir a iluminação em áreas comunitárias, ruas e casas. Normalmente abastecidos a diesel, esses equipamentos são desligados a partir de um determinado horário à noite para economizar o consumo do combustível, prejudicando as atividades e a segurança dos moradores.

Há cerca de dois meses, pelo menos 120 ribeirinhos das comunidades Santo Antônio do Brito e Toari, na zona rural do município de Carauari (AM), foram beneficiados com soluções alternativas de iluminação. Foram instalados postes de baixo custo, feitos de material reciclável e com bateria solar, em 27 pontos de áreas públicas, como corredores de acesso às casas e à escola, e 33 equipamentos para iluminar o interior de moradias. 

A ação é resultado de uma parceria da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) com a organização Litro de Luz, dentro do Programa Território Médio Juruá, que tem a coordenação-geral da SITAWI e apoio da USAID/Brasil, Natura e Coca-Cola.

Para viabilizar a instalação são usadas garrafas PET, canos de PVC, lâmpadas de LED, placas solares e baterias. Tudo com a ajuda da própria comunidade, que aprende a montar o material, utilizá-lo e fazer a manutenção. 

Em decorrência da pandemia de COVID-19, as atividades que envolveram representantes da comunidade tiveram todos os cuidados sanitários necessários, com as equipes tendo realizado testes e com o uso de máscaras, mantendo o distanciamento.

Os moradores capacitados, chamados de embaixadores, recebem ferramentas e materiais e dão suporte para o restante da comunidade. Esses equipamentos de iluminação chegam a ter capacidade para funcionar por até seis horas seguidas.

Segundo o jovem Raimundo Nonato de Oliveira, um dos que participaram do projeto, em depoimento a representantes da ASPROC, os moradores agora podem trabalhar à noite, sem interromper atividades após o gerador ser desligado. 

Na comunidade Santo Antônio do Brito, os ribeirinhos relatam que a iluminação das vias públicas por meio do gerador era feita até as 22 horas, dificultando, por exemplo, a volta para casa dos alunos do período noturno da Escola Municipal Luiz Campos.

Já na comunidade Toari, a moradora Francisca Figueiredo, uma das beneficiadas pela ação, destaca a importância da iluminação nas casas. “Antes, a gente ficava no escuro, sem conseguir continuar as atividades. Agora temos iluminação a noite toda, é tudo claro”, diz em seu depoimento.

Trajetória - A tecnologia foi inventada pelo mecânico brasileiro Alfredo Moser, que instalou a lâmpada artesanal em seu telhado em 2002 durante um apagão. A ideia foi adotada 10 anos depois por uma ONG filipina que trabalha com soluções sustentáveis de baixo custo e se espalhou pelo mundo.

Ao Brasil, ela voltou em 2016 por meio da ONG Litro de Luz. Em 2018, o projeto já havia atendido mais de 56 comunidades no território Médio Juruá com a instalação de 600 lampiões feitos de garrafas PET e lâmpadas de LED em outras áreas de Carauari. 

À época, uma expedição acompanhou as oficinas para construir os equipamentos e coletou relatos dos moradores, transformados em vídeo. Assista e conheça essas  histórias aqui