Lideranças mostram na COP-26 como aplicar o conhecimento tradicional no enfrentamento às mudanças climáticas

Lideranças indígenas, principalmente mulheres, que estiveram na COP-26, em Glasgow em 2021, procuraram mostrar ao mundo as estratégias que as comunidades tradicionais da Amazônia vêm adotando para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Nesta agenda foram incluídos temas como o uso de energia limpa, as adaptações de modos de vida e a luta pela conservação da floresta em pé e de sua biodiversidade.

"Sabíamos que os povos indígenas teriam voz e espaço em várias instâncias na Conferência do Clima. Por isso, era o momento oportuno para levar as estratégias que adotamos e dizer como estamos trabalhando as mudanças climáticas", conta a líder indígena Sineia do Vale, que também destaca os desafios enfrentados para chegar a Glasgow ainda sob efeitos da pandemia. Entre eles cita as exigências de documentação (incluindo comprovantes de vacinação) e o fato de ter sido o primeiro encontro presencial do qual participou depois da COVID-19.  

Segundo Sineia, um dos projetos apresentados a participantes da COP foi o da experiência de implantação da torre de energia eólica na comunidade Tamanduá, na região da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima. A torre está em fase final de implantação. Outra experiência foi a das brigadas indígenas, três delas apoiadas pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), que atuam na Amazônia no monitoramento e na prevenção e combate a incêndios.

Nascida na região da Serra da Lua e da etnia Wapichana, Sineia coordena o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do CIR, onde trabalha desde o fim dos anos 1990. Para 2022, está ajudando a organizar uma publicação sobre a percepção das comunidades indígenas na TI Raposa Serra do Sol em relação às mudanças climáticas.

“Com a pandemia, muitos que estavam fazendo o trabalho de campo tiveram de adequar e por isso atrasou um pouco, mas pretendemos divulgar no primeiro trimestre a publicação", explica Sineia.

O trabalho de campo é feito pelos próprios indígenas e por agentes ambientais treinados e capacitados para lidar com mapas, dados e coletas de informações. 

Parte dessas iniciativas está inserida no projeto Promoção do Bem-Viver da População Indígena no Estado de Roraima, desenvolvido no âmbito da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), com apoio da USAID/Brasil. 

O projeto é implementado pelo CIR em conjunto com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e a Nature and Culture International (NCI). Visa promover a governança e a gestão territorial e ambiental das TIs, além de implementar a Política Nacional da Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI) e estruturar práticas sustentáveis da pecuária indígena, introduzida pelas comunidades há mais de quatro décadas.

Planos - Dentro dessa missão, TIs conseguiram no ano passado desenvolver e implementar os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs). São elas: Serra da Moça, Manoa Pium e Centro Maturuca. As comunidades Mangueira, Boqueirão e a TI Jacamim, na Serra da Lua, também estão finalizando seus planos neste início de ano.

Os PGTAs visam expressar o protagonismo, autonomia e autodeterminação dos povos indígenas com foco na proteção ambiental e controle territorial. Reúnem reflexões e planejamento do uso sustentável dos territórios indígenas de forma a assegurar a melhoria da qualidade de vida e fortalecimento das culturas e tradições. Fornecem ainda subsídios para construção de políticas públicas.

“Quando a gente apoia aquilo que as comunidades propõem é gratificante. Vemos muitos resultados positivos. Não é uma coisa de cima para baixo, impondo o que não querem. Eles têm autonomia para decidir o que querem”, completa Sineia.