Inovador, curso proporciona troca de experiências para fortalecer gestão de empreendimentos comunitários

Com uma modelagem construída de forma colaborativa e a partir da demanda das comunidades, o curso FORMAR Gestão vem promovendo uma troca de experiências entre os 51 participantes de várias regiões da Amazônia.

São extrativistas, indígenas e não indígenas, gestores de associações e de cooperativas locais e assessores de organizações da sociedade civil que buscam aprimorar e fortalecer o conhecimento em legislação, técnicas de gestão, de liderança e outros temas.

Foram selecionados em comunidades, em Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas apoiados pela Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB).

O curso, com duração prevista até o início de 2022, tem quatro módulos, divididos por temáticas: organização, governança, finanças e comercialização. Está sendo realizado online por causa da pandemia de COVID-19. 

O programa de formação vem na esteira da experiência do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) com o FORMAR Castanha, que promoveu a capacitação de castanheiros para boas práticas de produção e comercialização na cadeia de valor sustentável do produto. Está inserido no projeto Cadeias de Valor Sustentáveis e Gestão Territorial e Ambiental em Áreas Protegidas da Amazônia Brasileira, que tem suporte da USAID/Brasil por meio da PCAB e é implementado pelo IEB. 

Fazem parte do comitê pedagógico representantes de oito organizações, incluindo o IEB. São elas: Operação Amazônia Nativa (OPAN), Pacto das Águas (Pacto), Fundação Vitória Amazônica (FVA), Memorial Chico Mendes (MCM), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS). 

Pela voz dos próprios participantes, saiba como tem sido a experiência:

1 - Karolina Paz de Matos - É manejadora nas cadeias de açaí e madeira na Reserva Extrativista Arioca Pruanã, localizada no município de Oeiras do Pará. Também faz parte da Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Arioca Pruanã.

“Na nossa comunidade temos algumas mulheres engajadas, mas ainda são poucas. Por isso, comecei a participar da associação e de projetos locais. Me propus a cursar o FORMAR Gestão porque percebi que preciso aprender mais sobre gerenciamento, legislação e gestão de empreendimento, além de como lidar com o público. Vi uma oportunidade de melhorar essas falhas na minha formação.

Tem sido muito rica a participação e a oportunidade de conhecer pessoas de outros estados e outras cadeias de valor, como a do pirarucu. No curso, estamos expondo o que precisa melhorar em cada empreendimento e trocando conhecimento com moradores de diferentes regiões. A Amazônia é muito diversa e isso é enriquecedor.

Deixo uma mensagem para as mulheres, para que a participação em projetos, cursos e outros programas seja intensificada. A gente se sente muito pequena no meio de tantos homens, e muitas mulheres ficam acuadas. Mas essa barreira precisa ser rompida. Temos de segurar nas mãos de outras mulheres para dar confiança e para que elas saibam que terão apoio.”

2 - Josias Cebirop Gavião - Liderança Gavião, da Terra Indígena (TI) Igarapé Lourdes, no município de Ji-Paraná (RO). É secretário da Associação Indígena Zavidjah Djiguhr (ASSIZA).

“Sempre tive vontade de participar de cursos de formação ligados à gestão. Sentia uma  necessidade por causa da nossa associação indígena. No FORMAR Gestão temos a oportunidade de manter contato com pessoas de outras regiões, com representantes de movimentos indígenas. São coisas que a gente ouvia falar, mas não tinha aprofundamento. Nessa troca de experiência, podemos entender como os temas influenciam na nossa associação.

Temos necessidade de qualificar o nosso pessoal na aldeia, envolvendo e atraindo para a associação. Com uma nova visão e realidade, precisamos estruturar a organização interna para que os jovens tenham oportunidade de trabalhar, seja na administração da organização ou por meio dela. 

Agora estamos incentivando o povo a produzir, não somente a castanha que já faz parte da nossa cultura e ocupa alguns meses no ano, mas também na agricultura, plantando banana, mandioca, cará… Trabalhamos para inserir os produtos no mercado institucional, para gerar renda para as famílias. O FORMAR Gestão vai incrementar isso, trazendo mais bagagem e elementos para aprofundar e fortalecer a associação.”

3 - Breno Zúnica - É coordenador do FORMAR Gestão e analista socioambiental no Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

“Está sendo muito interessante perceber a diferença de olhares sobre a gestão, sobre os empreendimentos e os territórios. É interessante perceber a solidariedade entre eles. Entre os participantes temos desde jovens até pessoas de mais de 50 anos. Alguns empreendimentos são bem recentes, outros mais consolidados, que movimentam suas cadeias de valor em diferentes áreas, dando, às vezes, a linha do preço do produto em sua região. São pessoas muito diferentes e isso tem sido muito frutífero para o debate. 

Em relação ao fato de o curso ser online, percebemos que alguns têm dificuldades de acesso ou de manuseio da tecnologia. Mas temos tentado superar esses entraves, procurando buscar alternativas como discussões em grupos menores durante as aulas, troca de mensagens por meio de WhatsApp…

Esse é um curso inédito, adaptado e customizado para as realidades desses empreendimentos. Para isso, tanto as nossas atividades durante o curso como o diálogo com os cursistas são constantes. Usamos as devolutivas para planejar as próximas aulas. É a primeira vez  que temos um curso voltado para a realidade dos empreendimentos comunitários na Amazônia com suas particularidades e isso faz a diferença.”

Mais informações sobre o FORMAR Gestão aqui.