Iniciativa promove retomada da produção de borracha e gera renda

Onze pessoas estão sentadas a uma mesa coberta com toalha escura. Um homem de blusa vermelha está em pé falando ao microfone - Foto: Divulgação/CNS
Projeto ganha apoio da USAID e da PPA em 2023

Março, 2023 - Famílias que vivem em comunidades tradicionais no estado do Amazonas e participam da iniciativa “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica” retomaram a extração do látex, comercializando mais de 60 toneladas de borracha na safra 2022. Foram cerca de 250 famílias trabalhando diretamente na produção e movimentando em torno de R$ 700 mil.

O projeto nasceu de uma parceria entre a Fundação Michelin e a Rede WWF e, neste ano, tem a USAID/Brasil e a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) para somar esforços como parceiros estratégicos. Também participam da iniciativa o Conselho Nacional das Populações Extrativista (CNS) e o Memorial Chico Mendes. Instituições públicas têm sido envolvidas no processo, apoiando a realização das operações logísticas nas comunidades, a regularização fiscal para acesso a subsídio e aquisição de kits para extração. 

Esses resultados foram apresentados durante o 1º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, realizado em Manaus entre os dias 7 e 9 de março. No evento, participantes avaliaram o trabalho no primeiro ano de implementação da iniciativa, que tem o objetivo de fortalecer a cadeia de borracha nativa da Amazônia, e planejaram as atividades para a próxima safra.

“Muitos extrativistas não têm noção da importância do que eles fazem ao manter a floresta de pé. Hoje, com essa retomada, a borracha é o produto mais rentável. Tem seringueiro que tira dois salários-mínimos por mês”, afirma Francisco Leandro do Nascimento Araújo, presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas de Canutama (ASPAC). 

E completa: “Com o primeiro adiantamento que receberam da borracha, alguns seringueiros já adquiriram motor, canoa nova, bote de alumínio e equipamentos eletrônicos que não tinham em casa, como televisão e antena. Isso mexe com a autoestima deles e com a minha. Até os 15 anos eu vivi no seringal, meu pai, que está com 70 anos, era seringueiro”.

A ASPAC é uma das sete associações envolvidas com produção na última safra que englobou os municípios amazonenses de Pauini, Canutama, Eirunepé, Manicoré e Itacoatiara. Para o encontro, foram convidados extrativistas de outros municípios interessados em fazer parte da iniciativa: Apuí, Boca do Acre, Santarém e Tefé. 

“Juntas, essas instituições têm atuado no Amazonas com foco na reativação da cadeia da borracha no estado. Nosso objetivo é desenvolver uma relação comercial justa, responsável e inclusiva, justamente porque acreditamos no potencial do extrativismo para a conservação da floresta em pé e para a valorização da cultura dos povos e populações tradicionais”, explica Adevaldo Dias da Costa, presidente do Memorial Chico Mendes, responsável pela implementação do projeto no território.

Apoio - Para fortalecer as sete associações, a iniciativa conseguiu viabilizar uma porcentagem por quilo de borracha produzida, que chegou a mais de R$ 100 mil, além do apoio com suporte jurídico, contábil, logístico e de compras.

“São iniciativas como esta, ambientalmente responsáveis, socialmente equilibradas e financeiramente viáveis, que colaboram e nos guiam em direção a um futuro, a cada dia mais sustentável”, diz Bruna Mesquita, especialista em Desenvolvimento Sustentável da Michelin.

Ricardo Mello, gerente de Conservação do WWF-Brasil, destaca as contribuições do projeto. “A iniciativa gerou renda para as famílias da região e contribuiu de forma positiva para a valorização da floresta como um dos pilares de uma nova economia amazônica baseada no uso e preservação da sociobiodiversidade. Esperamos que esse encontro seja um marco no estado na consolidação da cadeia da borracha”.

A Força do Extrativismo - A extração do látex é feita no segundo semestre, durante a estação seca. A produção da borracha envolve o manejo de seringueiras nativas na  Amazônia. O processo de manipulação e a produção envolvem atividades com baixo impacto ambiental, sem degradação. 

Como as atividades extrativistas se intercalam ao longo do ano, o produtor costuma trabalhar (comercialmente) com outras cadeias produtivas, como castanha e pesca, por exemplo.

Entre os desafios para a cadeia da borracha estão a necessidade de técnicas de aprimoramento da qualidade, as grandes distâncias percorridas para comercializar o produto, a fragmentação e demora no receber dos recursos de subvenção, além da necessidade de apoio para a manutenção da regularidade fiscal das organizações de apoio local do produtor. Para superar tais obstáculos e destravar o potencial desta cadeia, novos arranjos produtivos e financeiros entre organizações extrativistas, empresas e governos já estão sendo estabelecidos.

Ao final do encontro, os seringueiros divulgaram uma carta-manifesto em que reivindicam, entre outros pontos, a criação de uma política de pagamentos por serviços ambientais (leia mais aqui)

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