Gosto da Amazônia: conservação da biodiversidade e geração de renda

Com o apoio da USAID, marca comemora em São Paulo seus cinco anos

Maio/Junho, 2024 – Francisco Alessandro é ribeirinho, mora na comunidade Xibauazinho, no município de Carauari, no centro da Amazônia. Ele trabalha no manejo sustentável do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce fluvial do mundo. Nativa do bioma, a espécie contribui com benefícios para o ecossistema e gera renda para as populações que vivem da pesca. Alessandro é um dos que atuam no manejo para ajudar a conservar a espécie, garantindo assim a riqueza da biodiversidade local. 

Por causa da pesca predatória, o pirarucu esteve entre as espécies ameaçadas nos anos 1980 e início de 1990, mas foi graças ao trabalho de comunidades ribeirinhas e indígenas, especialmente da região do Médio Juruá, que o número de peixes aumentou. Esse esforço resultou na marca coletiva Gosto da Amazônia, que comemorou seus cinco anos com um jantar promovido em São Paulo, metrópole a mais de 3 mil quilômetros de Carauari (no Estado do Amazonas). E foi essa distância que Alessandro percorreu – viajando de barco e avião – para contar como a renda gerada pela pesca tem mudado a vida das comunidades ribeirinhas. 

“Por meio da renda (do manejo sustentável do pirarucu) conseguimos um dos nossos maiores sonhos: a instalação de energia solar, saudável e sustentável, em nossas comunidades. Antes tínhamos energia por algumas horas. Agora esse período aumentou. Isso é muito gratificante”, contou o manejador a uma plateia que aguardava ansiosa para saborear um menu em etapas. Incluía croquete de pirarucu, um prato principal de lombo de pirarucu na brasa com purê de mandioca, banana da terra e molho de tucupi, acompanhado de coquetel que levava flor de jambu – todos ingredientes amazônicos preparados pelos chefs Filipe Leite e Priscila Deus, que esteve no Médio Juruá em 2022. 

O Gosto da Amazônia, que conta com o apoio da USAID desde o início do projeto, é um arranjo produtivo e comercial, liderado pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC). O trabalho é feito sem intermediários – vai desde o contrato com os pescadores até o transporte nas áreas de manejo e o processamento em frigorífico. Por meio da prática de comércio justo, tem garantido melhores preços para os ribeirinhos de mais de 200 comunidades manejadoras. A comercialização anual chega a cerca de 300 toneladas de pescado, de diferentes regiões.

“A marca Gosto da Amazônia é coletiva e representa o trabalho de muitas pessoas e organizações. É inovadora porque é de uma associação comunitária. As pessoas envolvidas no projeto partem do princípio que estão colaborando com a conservação da natureza”, disse Pedro Constantino, coordenador temático do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS).

Além do USFS e da USAID, o jantar reuniu representantes de parceiros e apoiadores do projeto, entre eles a Operação Amazônia Nativa (Opan) e o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio).

O coordenador no Brasil do programa da USAID para a América do Sul, Marcos Bauch, destacou a experiência de ter conhecido de perto o projeto, quando viajou até o Médio Juruá juntamente com chefs de várias partes do país para acompanhar a pesca do pirarucu (leia mais aqui)

“Foi uma experiência que mudou a vida de todos que participaram. Conhecer a história da região, poder ver a comunidade de onde vem o alimento que a gente consome, presenciar a contagem e a pesca do pirarucu, testemunhar a organização da comunidade ao delegar as tarefas para que a pesca seja um sucesso e ver em primeira mão as dificuldades logísticas que as comunidades enfrentam, além de poder conversar e conhecer o povo do São Raimundo (uma das comunidades manejadoras), foi uma experiência que muda a vida de qualquer um. Sou eternamente grato por essa oportunidade”, afirmou Bauch. 

A manejadora Lilian Gonçalves da Silva, do Médio Solimões, viajou pela primeira vez a São Paulo e destacou o papel das mulheres no trabalho. “A participação das mulheres é fundamental no manejo sustentável do pirarucu. Nos organizamos – os homens, as mulheres e os jovens  – para garantir um futuro melhor para nós e para a natureza. Nós nos beneficiamos sem prejudicar o meio ambiente, garantindo sustentabilidade.” 

Segundo dados da Asproc referentes a 2022 (últimos números disponíveis), quase metade das 750 pessoas que participaram da pesca manejada na região do Médio Juruá eram mulheres. Elas trabalham principalmente na evisceração (limpeza e retirada de vísceras) do peixe, na contagem, além de ocupar espaços de liderança.   

O manejo – As comunidades que participam do manejo sustentável do pirarucu fazem durante o ano inteiro a vigilância dos ambientes naturais onde o peixe habita para evitar pesca predatória. No manejo, a pesca é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no período de seca (entre setembro e novembro), respeitando o ciclo reprodutivo da espécie. 

Pode ser pescada apenas 30% da população adulta de pirarucu em cada lago onde é feito o manejo para garantir o aumento progressivo da população de peixes.

“Para nós, do território Médio Juruá, o pirarucu é mais do que um peixe. É um presente que a natureza nos deu e que nós cuidamos de maneira carinhosa para que possamos continuar tendo para as futuras gerações”, concluiu Francisco Alessandro.