Evento homenageia brigadistas que desafiam barreiras, conservando a Amazônia
Março, 2022 - Vanessa Sidi Xerente, do Brasil; Magda Liliana Reyes, da Colômbia; Carolyn Warden, dos Estados Unidos; Dolores Díaz, do Equador; e Mily Yelka Sánchez, do Peru. De países diferentes, elas têm em comum a coragem de ter entrado em uma área tradicionalmente ocupada por homens e o desejo de ver mais mulheres fortalecidas pela capacitação e engajadas no trabalho que fazem. Todas participam de atividades ligadas à prevenção e ao manejo de incêndios florestais.
Elas contaram suas experiências, desafios e expectativas durante o evento “Mulheres do Fogo na América do Sul”, promovido pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e pela USAID para marcar o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Transmitido pela internet, o webinário é parte do Programa Regional do Fogo para a América do Sul (FOGO), criado em 2020 em resposta ao aumento de incêndios florestais e que possibilita a brigadistas norte-americanos compartilharem experiência e conhecimento com especialistas de outros países.
Junto às histórias destas cinco mulheres, Renee Jack, brigadista do USFS, com uma carreira de 19 anos nesta área e paraquedista (smokejumper) por sete anos, falou sobre o Programa FOGO e os desafios comuns para a inclusão e participação das mulheres no manejo de incêndios.
O FOGO trabalha com diversas entidades oficiais e privadas, universidades e comunidades indígenas para aprimorar os recursos técnicos e humanos da região, especialmente no território amazônico. Vem desenvolvendo vários cursos, alguns voltados a mulheres.
No Brasil, a parceria inclui o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/Prevfogo) e realizou capacitações, entre elas uma com o foco exclusivo para mulheres indígenas da etnia Xerente.
“Não é fácil quebrar paradigmas. A cultura patriarcal impõe barreiras, dita como temos de nos comportar, aponta o papel que temos dentro da comunidade, sem poder opinar ou exercer certas funções. Então começou uma luta. Superamos barreiras. Na brigada enfrentamos muitas dificuldades. Mas estamos resistindo”, disse Vanessa Sidi Xerente, com a voz embargada e os olhos marejados ao tratar das dificuldades enfrentadas.
Ela é chefe da equipe voluntária das mulheres indígenas que participam da brigada Xerente, no Estado do Tocantins, na região amazônica. Vanessa foi uma das 29 indígenas da etnia que concluíram em agosto de 2021 o primeiro curso de formação de brigada voluntária feminina. A capacitação envolveu conceitos desde educação ambiental e comportamento do fogo, até organização e segurança, além de técnicas de queima controlada e mobilização.
Especialista em áreas naturais protegidas (SERNANP, Peru), Mily Sánchez lembrou que menos de 25% dos trabalhadores envolvidos na área em seu país são mulheres, porcentual considerado pequeno.
Para Carolyn Warden, especialista em manejo do fogo do Serviço Florestal dos EUA, a responsabilidade de cuidar da casa e a falta de apoio para ficar com os filhos dificultam a participação das mulheres em cargos de liderança nas carreiras de bombeiros e de brigadistas. “Vamos continuar construindo cursos de formação para mostrar que as mulheres são capazes. É importante desenvolver redes de apoio e de mentoria, formal ou informal, para incluir cada vez mais mulheres. Para que elas não percam a motivação. As habilidades femininas contribuem muito para as ações de combate a incêndios florestais”, afirmou ela.
Repercussão - Durante o evento, internautas que acompanharam a transmissão registraram suas impressões. Foi o caso de Vanessa Luna-Celino que chamou de “maravilhosa” a iniciativa. “Felicidades a todas as mulheres que nos acompanham, são heroínas”, escreveu ela.
Para Ana Rosa Marques, foi “muito emocionante o depoimento” da indígena Vanessa. “Sempre me encanto com a força das mulheres guerreiras indígenas, viva Vanessa, você é uma grande vencedora.”
A diretora adjunta da Oficina Regional de Programas da USAID, Kristin Souba, primeira a falar no evento, falou da importância de reconhecer o papel das mulheres no manejo do fogo. “Sabemos que a falta de diversidade nas instituições faz com que as relações não sejam múltiplas. Com as mulheres, temos uma integração. (...) As organizações se beneficiam das habilidades das mulheres e da diversidade nos programas de combate a incêndios. As mulheres trazem experiências, conhecimento e histórias diferentes, que ajudam as organizações a promover diferentes perspectivas, gerando inovações”, resumiu Souba.
Ao encerrar o evento, Deana Wall, do USFS, ressaltou a importância de parcerias como as estabelecidas no programa FOGO, que permitem compartilhar conhecimentos. “Enquanto as mulheres forem minoria em ações de combate e manejo do fogo, sempre precisamos ajudá-las. Nossos países podem ganhar muito ao compartilhar sucessos e desafios, além de aprimorar o recrutamento, treinamento e retenção dessas mulheres. É importante trabalhar em equipe e apoiar as redes”, completou.