Ampliando as vozes indígenas por suas próprias vozes

Comunicadores participam de cobertura jornalística de evento do CIR
Como jovens comunicadores têm mostrado a cultura e as tradições dos povos de Roraima

Maio, 2023 - Alane dos Santos Lima, do povo Macuxi, é uma jovem que aos 24 anos foi escolhida liderança na comunidade Truarú da Cabeceira, no estado de Roraima. Sabia que um de seus papéis como tuxaua (forma como as lideranças são chamadas) era levar informação para os indígenas que não têm acesso a celulares ou internet, tampouco conseguem deixar a região, ao norte do Brasil. 

Por isso, a jovem decidiu ser uma das integrantes da Rede de Comunicadores Wakywai. “Tinha uma necessidade de ajudar meu povo e sabia que levar informação certa a eles seria um caminho. Entrar no projeto foi muito importante porque a comunicação permite isso”, afirma Alane.

A liderança conta que a participação em cursos de formação e em coberturas de eventos ampliou seus conhecimentos e formas de se expressar. 

A indígena Alane dos Santos Lima, do povo Macuxi, mostra câmera fotográfica. Ela é jovem, usa camiseta cinza e um cocar na cabeça
 

“Somos porta-vozes da comunidade e levamos as notícias a eles”,

diz Alane.

Com o apoio da USAID, em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e o Instituto Internacional de Educação do Brasil, a rede ganhou força a partir de 2020, quando levou esclarecimentos para os indígenas sobre a pandemia de Covid-19 e a vacinação contra a doença. Agora, esses jovens procuram divulgar as tradições e a cultura dos povos de Roraima usando suas próprias vozes, com olhar próprio. 

Neste ano (2023), já participaram da cobertura jornalística do evento que reuniu mais de 2.000 pessoas entre lideranças, indígenas de outras etnias e representantes de parceiros para marcar as comemorações dos 50 anos do CIR, da visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a Roraima e de outras reuniões e encontros das comunidades. 

Comunicadores entrevistam Catherine Hamlin, diretora do Programa de Meio Ambiente da USAID/Brasil, no evento do CIR

“Atualmente são 30 comunicadores que passaram por cursos de formação e capacitação e que contam a nossa história como ela é, com as nossas palavras e imagens, e não sob o olhar de quem vem de fora, como acontecia”, explica o comunicador indígena Caíque Souza, fotojornalista e assessor de Comunicação do CIR

A jovem Heslen Alves da Silva, da comunidade São Miguel, é uma das que participaram da capacitação e agora exerce o papel de comunicadora indígena. “Sempre gostei da comunicação e vi que era uma necessidade para minha comunidade porque não tinha ninguém que desempenhasse esse papel. É uma forma de levar o nosso cotidiano para as pessoas não só de fora, mas de outras comunidades indígenas.”

A indígena Heslen Alves da Silva sorri para a câmera. Ela tem os cabelos compridos, está de camiseta cinza e usa um cocar vermelho na cabeça

“O projeto da Rede Wakywai, que na língua Wapichana significa ‘Nossa Notícia’, faz com que a gente conte nossa própria história. Como comunicadores indígenas, passamos a visão da nossa realidade. O papel do indígena na proteção da ‘mãe Terra’ e do meio ambiente é muito importante porque trabalha com a natureza”, completa Heslen.

Fortalecimento e formação - A Rede Wakywai integra o esforço no fortalecimento da comunicação como ferramenta para combater informações falsas no âmbito do projeto “Redes de comunicação indígena: tecendo laços contra a COVID-19”. A iniciativa promove o diálogo entre comunidades e o poder público para discutir questões sobre saúde indígena e efeitos da pandemia. 

Além disso, os jovens comunicadores passaram por cursos de formação, incluindo temas como formação política, direitos indígenas, letramento digital, oficinas de captação e edição de vídeo, fotografia e produção de cards para redes sociais.

Recentemente, para contar um pouco desse processo de capacitação, foi lançado o documentário “Histórias de Sucesso”, em que os próprios comunicadores relatam sua rotina. Assista: