Acesso à internet e protocolos de higiene ajudam comunidades na Amazônia a enfrentar nova realidade com pandemia

Comunidades ribeirinhas que vivem no interior da Amazônia e dependem do transporte por meio dos rios para ter contato com outras regiões ficaram mais isoladas em decorrência da pandemia da COVID-19.

Nesse cenário, medidas adotadas nos últimos anos por projetos apoiados pela Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), como acesso à internet e protocolos de higiene, ajudaram essas comunidades, que em muitos casos dependem do manejo sustentável do pirarucu selvagem para geração de renda.

Famílias das comunidades de São Raimundo, Roque e Nova Esperança, que vivem em uma área isolada, a 36 horas de viagem até o município de Carauari (AM), no Médio Juruá, usaram a internet via satélite instalada no local para se comunicar com outros municípios e até pedir socorro em casos de saúde.

A ferramenta já vinha sendo importante para facilitar o acesso a mercados e para denunciar invasões no território, protegendo a floresta. Até outubro, segundo dados oficiais, o município de Carauari registrou cerca de 3.500 casos de COVID-19 e 22 mortes.

A internet havia sido instalada em 2018 pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) por meio do Programa Território Médio Juruá, apoiado pela PCAB e coordenado pela SITAWI, em parceria com Natura e Coca-Cola Brasil.

A ASPROC também tem buscado, juntamente com manejadores do Médio Juruá e entidades parceiras, aprimorar a cadeia de valor do pirarucu selvagem com assistência técnica do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), destacando a responsabilidade em conservar cada vez mais, com mobilização e organização comunitária.

"A internet tem sido uma conquista importante, pois a qualquer hora as pessoas podem se comunicar com quem quer que seja em qualquer lugar do mundo. Além do uso pessoal no dia a dia dos comunitários até então isolados, é uma importante ferramenta coletiva", explica Adevaldo Dias, assessor da ASPROC.

Próximos passos - Mesmo com a pandemia, o trabalho no manejo do pirarucu continuou sendo realizado, mas com protocolos de segurança. Técnicos da ASPROC e contadores de pirarucu estiveram em campo em julho para fazer a contagem visual.

O processo possibilita saber o tamanho dos estoques para estabelecer o limite seguro da cota de pesca autorizada pelo Ibama. Antes do início do período da pesca, que vai de setembro a novembro, já se conhece exatamente o número de peixes que será capturado.

Neste ano, o protocolo também incluiu medidas preventivas à COVID-19, como a testagem para  pessoas envolvidas na pesca e tripulações das embarcações, além do acompanhamento de profissionais de saúde.

Ao longo dos anos, a ASPROC aumentou o número de comunidades atendidas em todo o Amazonas, passando de oito (em 2015) para 60 (em 2019), e no total de áreas protegidas -- com incremento de dois para 11 no mesmo período. Além disso, a comercialização quintuplicou, passando de 54,7 mil quilos para 292,1 mil quilos. 

Esse crescimento ocorreu em duas fases -- de 2017 a 2018, com a expansão da rede ASPROC por meio do Coletivo Pirarucu, e em 2019, com o avanço do capital operacional do projeto. Desde o ano passado, também faz parte da marca coletiva Gosto da Amazônia, que vem expandindo mercado para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

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