Expedição pela floresta: transmissão de conhecimento e monitoramento de territórios

Anciãos e jovens que participaram da expedição / Fotos: CTI
Formação de agentes ambientais indígenas inclui troca de saberes

Maio/Junho, 2024 – O conhecimento tradicional dos povos indígenas que vivem na Amazônia é repassado aos jovens pelos anciãos e anciãs por meio de histórias contadas, geralmente na língua-mãe (ou seja, a de cada um dos povos). Muitas vezes, essa sabedoria é transmitida durante as andanças pelo território. E foi exatamente dessa atividade que jovens da Terra Indígena Apinayé, no estado do Tocantins, participaram como uma das etapas de formação dos Agentes Ambientais Timbira. 

Os agentes, além de trabalhar em atividades de educação ambiental nas comunidades, participam de iniciativas que visam proteger o território, a biodiversidade da floresta e fortalecer as culturas indígenas. 

Durante dez dias, jovens, chamados menywjaja na língua-mãe, realizaram a 4ª Expedição de Mapeamento Participativo na TI Apinayé, que percorreu as regiões das aldeias Botica, Gato Preto, Valente, Corrente, Bacaba, Saia e Corralinho.

O grupo visitou as antigas aldeias acompanhado de professores, conselheiros, cantores, comunicadores e um pajé Apinayé (que é o indivíduo responsável pela condução de rituais tradicionais). O objetivo foi conhecer o histórico de uso e ocupação da terra indígena por meio das práticas tradicionais de fixação e deslocamento.

“A gente andou pelo território com os mais velhos, ouvindo histórias antigas, visitando cabeceiras de riachos, locais de aldeias antigas, lugares que a minha mãe e os meus avós tinham contado sobre eles para mim. Vi coisas que eu nunca tinha visto, como o remédio da cutia, que eu só ouvia falar”, conta a jovem Késia Iremèx, da aldeia Mariazinha. A “cutieira” é uma árvore tipicamente brasileira cuja semente tem propriedades medicinais.

A formação dos Agentes Ambientais é uma das ações que compõem o eixo temático de educação para a gestão socioambiental do Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas Timbira. 

A expedição é uma das atividades do projeto “Aliança dos Povos Indígenas pelas Florestas da Amazônia Oriental: Conservar, Proteger e Restaurar”, que recebe apoio da USAID e é realizado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), juntamente com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), em parceria com as organizações indígenas Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão  (COAPIMA) e Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA).

O projeto tem como tripé principal a restauração, a recuperação e a proteção das florestas. Para isso, fará formação de agentes ambientais e comunicadores indígenas. Também vai elaborar e implementar os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs); fomentar micro e pequenos projetos comunitários com o apoio a ações relacionadas à conservação, reprodução sociocultural e geração de renda (leia mais aqui)

Conhecendo a história – Durante a expedição, os jovens fizeram a identificação e o monitoramento territorial, a coleta de informações sobre a história do lugar e as ocupações das regiões, além da coleta de dados sobre a diversidade da vegetação, da fauna e das vulnerabilidades locais.

As andanças pelo território contribuem para que os menywjaja aprendam sobre mapeamento participativo e levantamento de dados territoriais geoespaciais. Nas andanças, eles fazem anotações em cadernos, fotografam os locais com o celular e utilizam o GPS para registrar informações. 

A gente aprende muita coisa nesse projeto graças às andanças que fazemos no território. E o nosso conhecimento vem disso. Para proteger o território, a gente precisa conhecer. Então fazemos o mapeamento dos locais que ficam nas fronteiras e identificamos os lugares de entrada de invasores”, diz Mário Kunun, da aldeia Areia Branca.

O grupo também participou de rodas de conversa, momento em que foram retomadas as experiências das expedições anteriores. Sobre os locais visitados, os jovens fazem fichas de qualificação e elaboram mapas mentais com informações dessas áreas. O resultado do trabalho é compartilhado com as comunidades para auxiliar as instâncias políticas internas nas ações de gestão territorial e ambiental.