Superalimentos para uma superfloresta na Amazônia
Março, 2024 – Bruno Kato é um empresário. Logo, ele entende muito bem o valor de uma floresta saudável — para o planeta, para a comunidade e para sua empresa. Bruno é o CEO da Horta da Terra, uma empresa que produz superalimentos liofilizados como açaí, chicória e hibisco, ao mesmo tempo que ajuda a restaurar a floresta amazônica no estado do Pará, no Brasil.
Mais de 40% do desmatamento na Amazônia brasileira ocorreu no Pará, em grande parte impulsionado pela pecuária e pela agricultura. A pecuária insustentável tem um impacto duplo sobre o desmatamento, já que os fazendeiros derrubam árvores para pastagens e — após alguns anos de uso intensivo desses pastos — abandonam a terra degradada em busca de novas florestas que, uma vez desmatadas, oferecerão pastagens mais verdes.
Os impactos do desmatamento vão muito além dos limites de cada fazenda. A floresta amazônica abriga milhares de espécies únicas, serve como um importante sumidouro de carbono e regula os padrões pluviométricos e climáticos de toda a América do Sul e de várias outras regiões. Um estudo inovador constatou que, se for mantido o ritmo atual de desmatamento na Amazônia, as montanhas da Serra Nevada — que irrigam os vales agrícolas da Califórnia — perderiam metade de sua cobertura de neve.
Bruno quer mudar essa situação. Em 2009, ele adquiriu um antigo pasto degradado de 91 acres com a ideia de implementar um modelo de produção mais sustentável na região. Nos anos seguintes, deixou que partes dessa terra se recuperassem naturalmente. Começou, então, a integrar fileiras de árvores e plantas produtoras de superalimentos altamente valiosos paralelamente à cobertura florestal natural.
À medida que a floresta circundante fica mais saudável, o mesmo acontece com sua área produtiva. Um ecossistema forte ajuda a promover uma agricultura mais resiliente e resistente a pragas, ervas daninhas e secas ao longo do tempo — em forte contraste com os empreendimentos pecuários abandonados e superexplorados a seu redor. Diversas espécies selvagens — como macacos, preguiças e até uma onça — já começaram a aparecer nas terras do Bruno.
Naturalmente, a manutenção desse modelo depende de sua rentabilidade. É por isso que a USAID, a Impact Earth e a Alliance Bioversity International - CIAT lançaram, em conjunto, o Fundo para a Biodiversidade da Amazônia (ABF), que investe em empresas e negócios sustentáveis na Amazônia brasileira.
O Fundo para a Biodiversidade da Amazônia já arrecadou US$ 50 milhões e investiu em cinco empresas até o momento, incluindo a Horta da Terra, em 2021. Segundo Bruno, o financiamento foi fundamental para tornar seu produto economicamente viável.
“Depois do ABF, outros investidores começaram a chegar”, disse ele. “Agora, todo mundo quer investir. É como na vida amorosa: quando você está solteiro, ninguém te quer — mas assim que começa um relacionamento, de repente todo mundo fica interessado!”
Em parte devido a esse investimento, a empresa começou a expandir suas vendas, alcançando mercados internacionais, como os EUA. À medida que o mercado de superalimentos sustentáveis e orgânicos continua a crescer, Bruno começou a adquirir produtos adicionais de outros pequenos agricultores locais cultivados sob a cobertura florestal.
A USAID, o CIAT e o ABF continuaram a trabalhar com o Bruno para monitorar a saúde de sua floresta e de sua fazenda e conectá-lo com potenciais investidores.
Uma análise recente constatou que, anualmente, as terras do Bruno armazenam cerca de 10 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente — o que corresponde a evitar as emissões de mais de 2 mil automóveis durante um ano — e abrigam uma diversidade de insetos muito maior que as terras vizinhas.
Ao demonstrar com clareza que o trabalho do Bruno está ajudando a recuperar a floresta, o projeto também ajuda a elevar os padrões para que outras empresas demonstrem responsabilidade por seus próprios compromissos de desmatamento zero ou de sustentabilidade.
Este é um exemplo claro de uma nova visão para a Amazônia, em que negócios ambientalmente sustentáveis proporcionam empregos e, ao mesmo tempo, restauram e protegem a floresta. Em toda a região amazônica, as atividades da USAID ajudam anualmente a conservar mais de 45 milhões de hectares, uma área florestal maior que a Califórnia, e mais de 100 mil pessoas obtêm benefícios socioeconômicos diretos dessas parcerias.
À medida que a Horta da Terra crescer, Bruno espera que seu sucesso demonstre a importância de restaurar a natureza — tanto para gerar oportunidades econômicas no curto prazo quanto para destacar o valor inestimável de um planeta saudável no longo prazo.
“A equação econômica que temos não funciona sem a natureza”, disse Bruno. “Espero que nosso exemplo possa servir de inspiração para outras pessoas.”