Seminário debate melhores práticas em monitoramento da sociobiodiversidade
Nos dias 4 a 7 de dezembro, o Programa Monitora, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do qual o IPÊ participa com o projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade realizou o 1o seminário Construção Coletiva de Aprendizados e Conhecimentos, em Brasília. O objetivo foi debater os cinco anos do projeto e também compartilhar melhores práticas e experiências – para começar a apontar caminhos para os próximos anos do projeto.
Cerca de 70 pessoas entre pesquisadores, monitores locais, representantes do poder público e do terceiro setor apresentaram suas diferentes iniciativas de monitoramento – desde monitoramentos de cadeias de valor como do pirarucu e da castanha até monitoramentos de caça, árvores e condições climáticas.
A importância do monitoramento para as comunidades é clara – ajuda na gestão diária e também no planejamento para o futuro. Francisco Souza Carvalho, monitor da Resex Cazumbá Iracema, no estado do Acre, explica que o monitoramento realizado na sua comunidade desde 2014 já deu frutos: “A gente viu que esse monitoramento dos mamíferos é muito importante para a comunidade. Por exemplo, nós vimos que não estavam tendo mais animais como a anta, o veado, então trabalhamos com a comunidade para não abater mais esses animais. E agora nessa última coleta já vimos um retorno desses animais.” Para ele, o seminário permitiu conhecer outras experiências podem servir de inspiração para novos trabalhos em sua comunidade.
Um dos principais desafios apresentados pelos palestrantes foi como montar protocolos e definição de dados que funcionem para as comunidades mas que também possam alimentar a criação de políticas públicas em maior escala – como fazer com que os dados possam ter uma aplicação real. “O seminário mostrou que a boa análise de dados trazem força para negociações da sociobiodiversidade e conservação. É um trabalho em grande escala, mas que precisa ser bem pensado para poder fortalecer e facilitar a gestão local e também ser útil para os grandes relatórios. E o seminário é uma inspiração para isso”, disse Kátia Torres, Coordenadora Geral de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade (CGPEQ/DIBIO).
Uma outra questão abordada foi como trabalhar os dados para comunicá-los a diferentes públicos. Adriana Ramos, Coordenadora de Política e Direitos do Instituto Socioambiental (ISA), acredita que é necessário criar estratégias para comunicar as informações obtidas com monitoramento da biodiversidade e “estar atento a como construir a credibilidade da informação”. Ela sugere, por exemplo, programar a divulgação casada com dados de desmatamento anuais, para que os meios de comunicação possam ter acesso a informações nos locais onde o desmatamento foi maior.
Cristina Tófoli, coordenadora do projeto Monitoramento Participativo de Biodiversidade, avaliou que o seminário cumpriu os objetivos de integrar os participantes e de que construíssem juntos os próximos passos. - “O propósito maior desse processo de construção coletiva do conhecimento é justamente promover intercâmbio dos conhecimentos. E conseguimos agregar a maior parte das instituições e pessoas que trabalham com monitoramento para contar suas experiências”.
No final do evento, foram acordadas recomendações para as iniciativas de monitoramento participativo da sociobiodiversidade e recursos naturais. Os resultados do seminário serão debatidos em reuniões nas Unidades de Conservação onde o monitoramento é realizado e depois consolidadas em um segundo seminário no início de 2019.
Na Amazônia, com o apoio do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, conduzido pelo IPÊ desde 2013, foram alcançadas cerca de 2 mil pessoas, com capacitações, implementações de protocolos existentes ou complementares, formações e oficinas de trabalho. Comunidades de 17 Unidades de Conservação (UCs) realizam atualmente um trabalho de monitoramento da biodiversidade em uma área que representa quase 12 milhões de hectares.
Conheça mais sobre esse trabalho na série de vídeos do IPÊ.