Rastreamento da produção de guaraná beneficia agricultores familiares e comunidades na Amazônia
Projeto faz parte da Aliança Guaraná de Maués (AGM), parceria da USAID/Brasil, CIAT, Ambev e Idesam para valorizar a cadeia produtiva e ampliar sua sustentabilidade
Aliar técnicas tradicionais de produção do guaraná na Amazônia às novas tecnologias para proporcionar segurança e valorização na cadeia do produto é o caminho que agricultores familiares estão trilhando no município de Maués (AM). O processo permite a adoção de práticas sustentáveis com melhores resultados e preservação da biodiversidade na região.
Por meio do trabalho da Aliança Guaraná de Maués (AGM), produtores estão comercializando em 2020 a primeira safra que usou mecanismos de rastreabilidade, instrumento importante para aumentar a interação com consumidores de centros urbanos e de outros países.
A AGM, que surge de parceria da USAID/Brasil, CIAT, Ambev e Idesam, visa a promover a sustentabilidade no setor produtivo do guaraná e seu papel no planejamento do uso da terra. Conta com a participação de associações e comunidades locais, além de gestores públicos.
O rastreamento da produção começou com um plano piloto, que envolveu 46 agricultores familiares ligados à Associação Comunitária e Agrícola do Rio Urupati (Ascampa), permitindo adotar um sistema padronizado. Na safra 2019, o instrumento foi aplicado para todos os fornecedores, cooperativas e compradores. No município, são 990 agricultores de guaraná. Sete organizações participam do projeto, com valorização do produto e venda direta.
Para montar o processo de rastreabilidade, foi criada uma lista de código único dos agricultores de Maués. Cada um deles tem um número e, com isso, é possível verificar a origem do lote, informações sobre o ano da safra, a localidade plantada e o nome do produtor. A AMBEV, principal compradora, tem um modelo de recibo e declaração de transação comercial para o controle da entrada e identificação de matéria-prima.
“O principal resultado de todo o processo é o empoderamento do produtor. É isso que queremos. A gente vem trabalhando em uma série de ações para que as pessoas ganhem mais, tenham visibilidade e sustentabilidade”, resume Miriam Figueiredo da Frota, gerente agronômica da Ambev.
Em breve, será colocado à disposição um aplicativo com o sistema de rastreamento. “Haverá uma etapa de implementação, com um processo educativo por trás, até chegar às mãos de todos os produtores. A ideia é melhorar a gestão da propriedade e das etapas da cadeia de valor”, explica Ramom Morato, coordenador de produção rural sustentável do Idesam.
Na safra 2019, comercializada neste ano, a Aliança, que também está inserida na PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia), apoiou a venda direta de cerca de 63 toneladas do guaraná de Maués para a Ambev. No ano anterior, durante o desenvolvimento do projeto piloto, haviam sido 15 toneladas. Até 2025, a empresa tem metas de sustentabilidade, que incluem, por exemplo, a compra de 100% do guaraná direto da agricultura familiar.
Garantias - Maués já tem o Selo de Indicação Geográfica para o guaraná, atestando a procedência. Segundo Morato, uma vez implementada a rastreabilidade, ela pode ajudar não só pesquisadores a recolher dados da cadeia de valor, como os próprios agricultores a buscarem novos mercados e certificações, a exemplo do selo orgânico.
Primeiro a obter a certificação orgânica no município, ainda em 2018, o produtor Luca D’Ambros ressalta a qualidade do guaraná local e a necessidade de manter a sustentabilidade da cultura. "A diferença de valor do produto daqui não é simplesmente uma questão de preço. É porque o guaraná de Maués tem toda uma história por trás.”
Em Maués, o preço do guaraná em rama chega a cerca de R$ 24 o quilo. Relatório da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta que a qualidade do guaraná no Amazonas fez com que o Estado movimentasse R$ 13,97 milhões em 2018, ou seja, 50,5% do valor bruto real daquele ano no Brasil. Em produção, foi responsável por 28% do país. Já a Bahia, que concentrou 60% do total produzido, girou menos — R$ 11,48 milhões, ou 41,5% do valor bruto real.
Mais informações sobre outras ações da AGM aqui: https://www.guaranacultura.com.br