Projetos de produção de castanha se adaptam para superar desafio da pandemia

Com a pandemia de COVID-19, organizações que trabalham com a cadeia de valor da castanha-do-Brasil em regiões amazônicas tiveram de fazer uma série de adaptações nos projetos para viabilizar a safra 2020-2021. Entidades apoiadas pela Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB) recorreram a novas tecnologias e formas diversificadas de comunicação buscando evitar a paralisação dos projetos. 

Foram instalados novos pontos de internet comunitária em Terras Indígenas e regiões isoladas, distribuídos equipamentos (como celulares) e kits de higiene (máscara, álcool em gel), além da criação de novos canais de comunicação para manter as populações tradicionais informadas e em processo contínuo de capacitação. 

Uma das iniciativas criadas para atender aos castanheiros foi o podcast #BoraSEMEAR!, com foco em 14 territórios (entre eles Unidades de Conservação e Terras Indígenas) de dois estados (Amazonas e Rondônia). O conteúdo de áudio foi inicialmente distribuído por meio de WhatsApp, passando a ficar disponível também nas redes sociais (os episódios podem ser ouvidos aqui). 

O podcast foi criado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), parceiro implementador da PCAB, juntamente com instituições do projeto SEMEAR Castanha para disseminar conhecimentos sobre boas práticas na cadeia da castanha-do-Brasil durante a safra em tempos de pandemia. 

Os episódios foram estruturados para atender a 13 organizações, visando alcançar mais de mil extrativistas. As dicas vão desde o momento do planejamento da safra até a comercialização da produção, passando pela coleta, transporte e outras etapas para a entrega de um produto de qualidade.

Além do podcast, os castanheiros podem acessar o material sobre boas práticas na produção, que inclui vídeos, folders e cartazes (acesse aqui). O IEB também instalou pontos de internet em comunidades atendidas.

"O desafio neste período foi imenso tanto para os castanheiros como para os técnicos. Todos tiveram de aprender a trabalhar a distância e a avançar na mobilização e no ensino remoto", conta André Tomasi, assessor de projetos do IEB.

Segundo ele, também foram viabilizados 13 planos de trabalho, totalizando 57 atividades, entre disseminação do pacote tecnológico, acompanhamento do uso do aplicativo Castanhadora (calculadora online que auxilia extrativistas a estimar o custo de produção, conheça e baixe) e disseminação de boas práticas de produção, entre outros. 

Como a castanha é importante fonte de geração de renda para várias comunidades amazônicas, as organizações também promoveram campanhas de doação de cestas básicas, para garantir segurança alimentar e condição de permanência nas localidades, e, desde fevereiro, vêm incentivando a vacinação contra a COVID, com ações de conscientização principalmente de indígenas e quilombolas, incluídos nos grupos prioritários.

Diálogos - Outra iniciativa desenvolvida durante a pandemia foi o Observatório Castanha da Amazônia (OCA), resultado do trabalho de instituições, projetos e coletivos que já atuam com essa cadeia. Com a participação de diversos parceiros da PCAB, como IEB, IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, Serviço Florestal dos Estados Unidos, entre outros, o OCA visa consolidar e fortalecer coletivos de empreendimento comunitários da castanha, promover conhecimento, disseminar informação e ser um fórum de diálogo.

Com esse intuito, o OCA retomou no início de março o projeto Diálogos Pró-Castanha, que promoveu dois dias de discussões online envolvendo atores da cadeia produtiva para desenhar um panorama das safras 2020-2021 e analisar os impactos da pandemia (assista aos vídeos aqui).

Vista como uma atividade extrativista importante do manejo florestal não madeireiro sustentável, ajudando a preservar a biodiversidade, a produção da castanha-do-Brasil tem ampla mobilização de anciãos, adultos, e jovens, que durante a safra passam dias na floresta coletando, lavando e armazenando o produto para a venda. Com a necessidade de isolamento social, a atividade  sofreu um impacto grande durante a pandemia. Para 2021, a previsão é de queda na produção.  

Desafios - Durante um dos encontros, Paulo César Nunes, coordenador de projeto da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), avaliou que a crise gerada pela pandemia foi muito grave. Atuando com seis organizações em quatro TIs, a Coopavam é uma das cooperativas que compra a safra de castanha de indígenas. "Muitas comunidades fecharam o acesso e interromperam todas as atividades e as vendas, causando impacto na economia dessas populações, que ficaram sem recursos para compra de insumos e alimentos básicos", contou Nunes. 

Para fazer frente a esse desafio, Nunes diz que houve um trabalho para assegurar a segurança alimentar, com maior diversificação de roças tradicionais e envolvimento de  jovens na produção de alimentos. Também destacou a importância do acesso à comunicação.  "É fundamental que as comunidades tenham acesso à comunicação e agora, por meio de apoio de parceiros, elas estão conseguindo internet mais rápida, possibilitando realizar reuniões e capacitações."

Nos últimos anos, o setor vem ganhando importância, ficando em segundo lugar no ranking de produtos não madeireiros mais extraídos na região amazônica, atrás apenas do  açaí. Árvore nativa da Amazônia, a castanheira do Brasil pode atingir até 60 metros de altura e viver por 500 anos. Seu fruto é o ouriço e a semente, a castanha - rica em nutrientes (como o selênio) é usada na indústria alimentícia e de cosméticos.