Projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade busca democratizar conhecimento na Amazônia Legal
Parceria da USAID/Brasil com IPÊ e ICMBio visa a construir com a comunidade ações sustentáveis em 17 Unidades de Conservação
Democratizar a informação e o conhecimento da ciência com comunidades ligadas a 17 Unidades de Conservação (UCs) na Amazônia Legal para que elas elaborem planos de ação é o foco atual do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade. Desenvolvido pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) em parceria com a USAID/Brasil, o programa apoia o acompanhamento da biodiversidade e promove o envolvimento socioambiental para fortalecer a gestão e a conservação das UCs.
Depois de um processo de construção de metodologia e de levantamento de dados envolvendo a própria sociedade, agora é o momento de devolver os resultados e pensar no futuro, acompanhando e conservando essas áreas. Durante o processo de monitoramento, é importante que a comunidade entenda as mudanças que podem levar à perda de biodiversidade local para que consiga fazer o manejo adequado dos recursos naturais e obter renda de maneira sustentável.
Por meio dos Encontros de Saberes, pesquisadores, monitores, gestores e líderes comunitários dialogam para que cada um, com sua experiência, olhe para a biodiversidade por meio da ciência. Em decorrência da pandemia da Covid-19, que levou comunidades ao isolamento social para tentar evitar a propagação do novo coronavírus e fechou as UCs, as atividades presenciais do projeto foram suspensas em março.
Mas, até o fim deste mês de maio, o IPÊ está incrementando o relacionamento a distância. A ideia é produzir vídeos curtos, que serão distribuídos via WhatsApp, para informar os moradores sobre a situação da pandemia, medidas de prevenção e até buscar a participação local para mostrar o que está sendo feito em cada região.
"O monitoramento da biodiversidade é uma ferramenta para aproximação das pessoas com a ciência. Temos como meta a democratização da informação e da ciência”, explica Cristina Tófoli, gestora do projeto no IPÊ.
Segundo ela, um dos benefícios de envolver a sociedade desde o início do processo é a identificação com o monitoramento. "É um processo mais lento, mais caro, mais trabalhoso, mas é muito mais consistente. Ao tratar de conservação ambiental, quando você envolve as pessoas e constrói junto, elas entendem a importância disso”, completa.
O projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade é um desdobramento do programa Monitora, que estabeleceu três protocolos padrão para monitoramento da biodiversidade nas UCs. Além disso, dentro do monitoramento participativo, foram criados protocolos adicionais para algumas dessas unidades em conjunto com as comunidades locais, que englobam desde a produção de castanha, até atividades animais, como a de quelônios, tucunarés e pirarucus.
No caso da pesca, a participação das comunidades da Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, ambas no Estado do Amazonas, foi importante no Monitoramento Participativo da Biodiversidade porque ajudou a desenvolver uma forma mais simples de acompanhamento.
Está sendo criado um formulário ilustrado para facilitar a vida dos comunitários no automonitoramento da pesca. Esse trabalho consiste em realizar a coleta de forma participativa, após capacitação dos voluntários das comunidades. Em um determinado período, eles anotam as espécies, o volume e a quantidade total de peixes capturada para realizar a medição de uma pequena amostra por espécie. Os protocolos existem para que seja possível criar padrões de observação de controle comparáveis ao longo do tempo.
Resultados - Um dos primeiros monitoramentos do projeto começou em 2014 na reserva Cazumbá-Iracema, que abrange uma área de 750.794 hectares no Estado do Acre. O alvo inicial era monitorar o comportamento da onça, mas depois de uma articulação com a própria comunidade, ficou definido que o foco seria a castanha. Foi criado um protocolo para a produção, considerada atividade extrativista importante do manejo florestal sustentável e uma das que mais contribuem para a geração de renda das comunidades locais.
Agora, o protocolo está sendo implementado em outras quatro Unidades de Conservação -- reservas extrativistas -- no Estado de Rondônia. São elas: a do rio Ouro Preto, a do Lago do Cuniã e as duas do Rio Cautário.
Outro exemplo é o monitoramento de quelônios, que começou em duas UCs vizinhas e já foi ampliado para mais duas.
Na finalização da temporada 2019 do Programa Quelônios do Rio Trombetas, por exemplo, houve a soltura de 5.000 filhotes de tartaruga-da-amazônia na região das praias de desova da espécie na Reserva Biológica. Durante toda a temporada foi registrado número recorde de filhotes soltos — mais de 50 mil tartarugas —, além do aumento de fêmeas que desovaram nos tabuleiros do Rio Trombetas. Chegou a 800, sendo que nos anos anteriores não passou de 600 indivíduos.
Troca de experiência - Antes de suspender as atividades, o projeto também realizou, no início de março, a Oficina do Conhecimento sobre a Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em Itapuã do Oeste (RO). Durante o encontro foram avaliadas as atividades de coleta de dados e apresentação dos resultados do monitoramento de 2019. Como resultado houve a elaboração de uma proposta de calendário levando em consideração as atividades do monitoramento na Flona do Jamari e na Estação Ecológica de Samuel.
No mês anterior, em fevereiro, foi realizado um encontro com a comunidade Tambaquizinho, na Reserva Biológica do Abufari (AM), que reuniu 44 pessoas. Foi discutida a continuidade dos projetos de automonitoramento da pesca, que avalia a dinâmica da diversidade de peixes. “Os comunitários entenderam realmente a importância das pesquisas. Foi um momento de descobertas e de estabelecimento de uma relação ainda maior de confiança”, afirmou, à época, Marcela Juliana Albuquerque, pesquisadora do IPÊ. Pedro Farias, da Comunidade Tambaquizinho, resumiu: “Dentro da reserva tem área de proteção e área que podemos usar, então eu quero poder pescar e chegar em casa tranquilo”.