Programa de formação busca fortalecer papel de mulheres indígenas em cadeias de valor

Um grupo de 32 mulheres indígenas do sul do Amazonas, das regiões dos rios Madeira e Purus, vai participar neste ano de um programa de formação com o objetivo de fortalecer as capacidades e o papel delas nas cadeias de valor sustentáveis. A proposta também prevê trabalhar com temas que reconheçam o papel sociopolítico das mulheres no desenvolvimento da cadeia de valor em suas aldeias e nas Terras Indígenas (TI).

A formação vem sendo planejada e construída desde o segundo semestre de 2020, de forma colaborativa, com a ajuda das próprias organizações indígenas da região, que já indicaram as mulheres para participar do programa.

O Entre Parentas, como é chamado, faz parte do projeto Nossa Terra II: Gestão Territorial Indígenas no Sul do Amazonas, que é um componente do Programa Cadeias de Valor Sustentáveis e Gestão Territorial e Ambiental na Amazônia, implementado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) com outros parceiros da PCAB. Entre eles estão a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e oito organizações indígenas. Será a primeira experiência do projeto voltada somente para mulheres indígenas.

O programa de formação terá início com encontros virtuais, além de atividades práticas desenvolvidas nas próprias comunidades pelas mulheres. Entre os temas abordados estarão, por exemplo, conteúdos voltados ao papel da mulher na organização social da produção e melhores práticas econômicas; ao aprimoramento de habilidades de gerenciamento de projetos e introdução de novas tecnologias.

A preparação - No ano passado, durante as etapas de modelagem do programa, os encontros virtuais também contaram com o apoio da União das Mulheres Indígenas da Amazônia (UMIAB), que ajudou a orientar o desenvolvimento do conteúdo com base no conhecimento sobre a realidade das mulheres nas aldeias.

Nesses encontros preparatórios, as participantes buscavam reforçar a atuação de mulheres indígenas, incluindo jovens, no dia a dia das TIs.

"Nossa expectativa é que o Entre Parentas sirva para que possamos reconhecer o nosso valor na cadeia produtiva. Esse valor vai muito além da questão comercial, justamente porque abarca nossos saberes e fazeres tão indispensáveis para a manutenção dos modos de vida tradicionais", disse a liderança indígena Cris Pankararu, na abertura da oficina de modelagem do programa no Madeira, realizada online no ano passado. 

Para Maria Parintintim, integrante da Organização dos Povos Indígenas Parintintim do Amazonas (OPIPAM), o processo de formação veio em um bom momento. "As mulheres e as jovens que se envolvem e trabalham em várias cadeias de valor sustentáveis, como no caso da castanha-do-Brasil, têm de começar a participar da etapa de comercialização, que em geral é feita só por homens. Participar da precificação do produto para poder valorizar o seu próprio trabalho", afirmou a indígena na mesma reunião.

Ameaças - O sul do Amazonas abriga 50 Terras Indígenas, que somam uma área de quase 8 milhões de hectares. No entorno existem 12 Unidades de Conservação Federal. Essas áreas protegidas estão sob constante ameaça do desmatamento ilegal, grilagem de terra e garimpo, por isso a importância de avançar no fortalecimento da implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).

Para isso, é importante o reforço no funcionamento das associações indígenas, incentivando a consolidação de atividades produtivas sustentáveis e a governança socioambiental.

O IEB trabalha há mais de dez anos com a temática da cadeia de valor da sociobiodiversidade e com povos indígenas no Amazonas. Prioriza atividades de capacitação e assessoramento ajustadas às realidades locais e atuando na facilitação e assessoria de processos formativos e de organização coletiva de povos indígenas e comunidades extrativistas. 

Entre 2016 e 2019 foi executado o projeto Nossa Terra para ajudar a fortalecer a gestão territorial indígena no sul do Amazonas. Durante o projeto, 330 indígenas passaram por processos formativos, sendo 115 mulheres.