Nossa Floresta Nossa Casa faz mapeamento da economia indígena no Mosaico Tupi
Projeto busca diagnóstico das cadeias produtivas de 14 povos em oito TIs
Após nove meses do início das atividades, o projeto Nossa Floresta Nossa Casa encerrou sua fase de análises gerais dos territórios de 14 povos indígenas do Mosaico Tupi e, agora, o diagnóstico se volta para as cadeias de valor de forma geral e dos grupos produtivos.
O foco é o aprimoramento dos arranjos locais e o potencial de manejo florestal e agroflorestal da produção de cacau nativo, castanha-do-brasil, açaí e artesanato. No caso dessas três últimas, a produção já é feita nas oito terras indígenas englobadas pelo projeto nos Estados de Rondônia e Mato Grosso. O cacau aparece como potencial em todos esses territórios.
O Nossa Floresta Nossa Casa é coordenado pela Iniciativa Comunidades e Governança Territorial da Forest Trends (ICGT-FT), um dos implementadores da PCAB. O objetivo é desenvolver cadeias de sociobiodiversidade indígena na Amazônia brasileira, estimulando oportunidades para geração de renda, conservação e uso sustentável dos territórios, em uma área de cerca de 1,5 milhão de hectares.
O projeto promoveu, até o início de março, 23 oficinas de construção de ações com lideranças das comunidades, quando foram firmados acordos e compromissos. Também houve 21 reuniões para o aprofundamento da avaliação das dinâmicas econômicas dos territórios. Ao longo desta primeira etapa de diagnóstico foram também catalogadas amostras de artesanatos e utensílios indígenas e realizados levantamentos de insumos, ferramentas e equipamentos, entre diversas outras atividades.
Durante a Avaliação das Dinâmicas Econômicas dos territórios indígenas foi possível, por exemplo, elaborar calendários sazonais produtivos, mapear as áreas de produção florestal e agroflorestal, registrar os valores dos produtos comercializados e as organizações atuantes, além de detectar as principais urgências para a produção em 2020.
Agora haverá uma nova rodada de oficinas participativas para desenvolver o planejamento. Essa etapa, porém, está temporariamente suspensa por causa da pandemia do novo coronavírus, que levou muitos municípios brasileiros e comunidades indígenas a adotar o isolamento social como forma de evitar sua propagação.
Os indígenas são mais vulneráveis a esse tipo de contaminação, por isso têm de ficar isolados nas aldeias. “Estamos em home office, fazendo o trabalho que pode ser desenvolvido à distância. A previsão inicial era de retorno em maio, mas agora deve ficar só para o segundo semestre. Estamos aguardando”, disse Fábio Wesley de Melo, assistente técnico da Forest Trends.
Segundo Melo, o Nossa Floresta Nossa Casa tem um alicerce baseado no tripé: fortalecimento das iniciativas econômicas indígenas, apoio à governança territorial e busca por parceiros comerciais em mercados diferenciados. Ele avaliou que o processo do diagnóstico foi importante para confirmar as demandas, além de compreender e registrar o envolvimento dos grupos.
Geração de renda - Nessa fase de diagnóstico foram mapeados programas já desenvolvidos nas terras indígenas que são considerados prósperos. É o caso do açaí, que já é uma realidade de manejo florestal sustentável nas TIs Kwazá do Rio São Pedro, Igarapé Lourdes e Rio Branco. Antes, a produção era feita com o corte e a derrubada das palmeiras, mas agora é praticada com a subida para a retirada do cacho inteiro, sem derrubar.
A produção de castanha-do-brasil in natura é vista como uma atividade extrativista importante do manejo florestal sustentável e uma das que mais contribuem para a geração de renda. Além disso, a produção tem a ampla mobilização de anciãos, adultos, e jovens, que na safra passam dias na floresta coletando, lavando e armazenando o produto para a venda.
Na terra indígena Zoró (em Mato Grosso), uma das áreas englobadas pelo Nossa Floresta Nossa Casa, a comunidade já desenvolve há anos atividades de manejo e comercialização da castanha.
A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), que tem parceria com a Partnership for Forests (P4F) e a ICGT-FT, trabalha com a produção local das terras indígenas. Na última safra (2019/2020), a Coopavam negociou o quilo da castanha in natura a R$ 6,00, enquanto a média na região é de R$ 2,00.
Segundo Paulo César Nunes, coordenador de projeto da Coopavam, a cooperativa mantém parceria com seis etnias em quatro terras indígenas. “Além das ações para garantir a sustentabilidade, temos certificado orgânico e buscamos atrair parceiros e apoiadores”, complementou Nunes.
Outro exemplo mapeado é o do artesanato, estratégico para o fortalecimento da organização de mulheres e para a construção de relações de igualdade nas organizações territoriais. As dificuldades, porém, estão na comercialização, que começam a ser superadas por meio de parcerias importantes apoiadas pelo projeto, como a da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR) com a empresa TUCUM.