Metodologia que promove diálogo entre conhecimento acadêmico e saber popular no monitoramento ganha publicação
O ano era 2017 e os pesquisadores estavam intrigados com uma queda súbita no número de borboletas florestais identificadas no Monitoramento Participativo da Biodiversidade (MPB) realizado na Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema, no Acre.
As borboletas são bons indicadores da saúde dos ecossistemas, e a equipe do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas suspeitava que a causa poderia ser o aumento de desmatamento. Até trocarem experiência com os moradores da Resex no Encontro de Saberes – que reúne ribeirinhos responsáveis pelo monitoramento em campo, gestores das Unidades de Conservação e pesquisadores para analisar os resultados do monitoramento de espécies da fauna e da flora.
“Durante o encontro, os comunitários contaram que os tabocais, que é como eles chamam os bambuzais, têm um ciclo de vida de 30 anos. Naquele ano, muitos morreram. Abriram-se clareiras e houve um aumento do número de borboletas de espécies de áreas abertas e redução das espécies florestais,” conta Cristina Tofoli, Coordenadora de Projetos do MPB no IPE e uma das 50 autoras da publicação “Encontro de Saberes – Uma Nova Forma de Conversar a Conservação”.
Além de envolver as populações que vivem e conhecem a floresta no monitoramento em si, os quatro Encontros de Saberes já realizados em pouco mais de oito anos, significam mais do que levar de volta às populações locais informações sobre os resultados do monitoramento de espécies dos quais eles participaram. São uma troca de conhecimentos específicos em uma área específica. Um diálogo com uma metodologia documentada e que pode ser adaptada ou replicada a partir da publicação.
O IPÊ realiza o monitoramento da biodiversidade na Amazônia em 18 áreas protegidas juntamente com o ICMBio dentro da Parceria para a Conservação da Biodiversidade da Amazônia (PCAB). E faz parte do Monitora – Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade.
Em 10 capítulos, a publicação eletrônica apresenta um histórico da criação da metodologia dos Encontros de Saberes com depoimentos dos participantes, “Mergulhar nesse universo de vivências e múltiplas concepções é algo que tem o potencial de promover grandes mudanças,” segundo Dárlison Andrade, coordenador de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, que resume: “Muitas vezes respondemos perguntas complexas, a partir da simplicidade de um olhar que enxerga aquilo que o especialista não vê.”
A publicação pode ser baixada no website do IPÊ.