Médio Juruá: a experiência que fortalece organizações e encoraja o ‘novo’
Julho, 2024 – A história do Território Médio Juruá, no estado do Amazonas, tem sido construída por meio de uma busca constante pelo fortalecimento de organizações comunitárias, com o incentivo à formação de lideranças e sua renovação nas gerações futuras, além do empoderamento das mulheres para ocuparem cada vez mais espaços. Por isso, instituições locais e seus parceiros promovem iniciativas de formação, capacitação e rodadas de debates para manter vivas as tradições e permitir o avanço das iniciativas.
Duas ações recentes realizadas no território exemplificam esse trabalho: o curso de formação política para jovens lideranças e o encontro de mulheres manejadoras de pirarucu. Ambas tiveram o apoio da USAID, que trabalha em estreita colaboração com o governo brasileiro, o setor privado e parceiros da sociedade civil para conservar a biodiversidade da Amazônia, fortalecer as organizações locais e promover atividades econômicas sustentáveis.
O curso para jovens lideranças foi uma iniciativa do Fórum Território Médio Juruá e envolveu mais de cem participantes de diversas comunidades. O Fórum TMJ é uma das principais instâncias de governança do território, sendo um espaço onde as organizações de base reconhecem eixos prioritários para a região e delimitam estratégias para atingir as metas estabelecidas de forma coletiva. Recebe apoio do Programa Território Médio Juruá, coordenado pela Sitawi Finanças do Bem, com suporte da USAID e parceria da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), da empresa Natura e organizações locais.
“O curso destaca a importância do empoderamento juvenil e do investimento em programas que capacitem os jovens a se tornarem agentes de mudança em suas próprias comunidades. É importante que compreendam o papel e as responsabilidades de uma liderança jovem na região amazônica e como podem ser catalisadores do engajamento cívico e político local”, diz Raimundo da Cunha, presidente da Associação dos Moradores Extrativistas da Comunidade São Raimundo e uma das lideranças jovens.
O território abriga cerca de 4.500 moradores em mais de 60 comunidades ribeirinhas e Terras Indígenas, ao longo de um trecho do rio Juruá, em uma área de 9.500 quilômetros quadrados. Abrange duas unidades de conservação – a Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari.
“Um dia as [atuais] lideranças ficarão cansadas e não terão mais condições de estar à frente das organizações representativas. Por isso, é tão importante esse processo de formação de jovens, preparando para que sejam as lideranças no futuro”, afirma Manoel da Cunha, gestor da Resex do Médio Juruá e uma das referências no território. Além de toda sua luta nos anos 1970 e 1980 pela melhoria das condições de vida dos ribeirinhos e conservação da biodiversidade na região, Cunha é filho do seringueiro Joaquim Xavier da Cunha, que morreu em 2022 e foi um dos que iniciaram o processo de mudança no território.
Durante o curso, além das trocas de experiência, os jovens realizaram diversas atividades práticas, como oficinas de comunicação e de oratória. Um dos temas abordados foi a inclusão das mulheres nas atividades das comunidades, que tem ganhado impulso com a cadeia produtiva do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo e nativo da Amazônia.
Empoderamento feminino – O manejo do pirarucu sustentável foi uma das atividades desenvolvidas no Médio Juruá nos últimos anos que, além de conservar a espécie do peixe em risco de desaparecer na região, tem promovido uma grande mudança na vida dos ribeirinhos e indígenas, com mais segurança alimentar e geração de renda para as famílias.
Também foi por meio dessa cadeia sustentável que as mulheres conquistaram espaço. Para tratar dessas conquistas e desafios no futuro, o Encontro de Mulheres Manejadoras de Pirarucu: Fortalecendo Identidades e Redes reuniu mais de 30 pessoas. O evento foi organizado pelo Coletivo do Pirarucu, que recebe apoio da USAID e do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS).
A programação do encontro permitiu um intenso processo de aprendizagem, trocas de experiências e criação de vínculos. Incluiu a abordagem de uma metodologia participativa sobre o que é “empoderamento comunitário”, adaptada por Ana Luiza Violato Espada, do USFS, para o contexto das mulheres manejadoras de pirarucu. Com isso, foi possível identificar as percepções das identidades das mulheres que manejam o pescado e os papéis de gênero que, na prática, vêm sendo atribuídos na cadeia.
Leia mais sobre os eventos nos sites da Sitawi Finanças do Bem e do Coletivo do Pirarucu.