Manejo sustentável: grupo da TI Rio Branco cria marca para comercializar açaí

Mesmo com a pandemia da COVID-19, que levou as aldeias da Terra Indígena (TI) Rio Branco, na Amazônia, a uma série de adaptações, um grupo formado principalmente por jovens e mulheres conseguiu implementar um novo projeto.

Nos primeiros meses de 2021, a marca “DoAçaí” iniciou a comercialização dos lotes de seu produto no município de Alta Floresta d’Oeste, no Estado de Rondônia. O resultado vem de um trabalho realizado desde 2018, com apoio da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB).

Sofreu atrasos no ano passado depois da necessidade de limitar a entrada e saída nas aldeias para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Mas, com a vacinação dos indígenas e a adoção de medidas sanitárias (como uso de equipamentos de proteção individual e higienização), as ações foram executadas.

O projeto Iniciativa Açaí tem o objetivo de estruturar a cadeia produtiva do fruto e atuou desde a capacitação dos indígenas envolvidos, até o apoio logístico e a implantação da unidade de beneficiamento na aldeia São Luiz. Realizado pela Associação Indígena Doá Txatô, tem a co-gestão do Pacto das Águas, com apoio da USAID/Brasil, Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) por meio do projeto de cadeias de valor. 

O açaí é o produto não madeireiro mais extraído na região amazônica, com relevante papel na geração de renda sustentável para famílias indígenas e de comunidades tradicionais que vivem na floresta. Em toda a Amazônia, a extração do fruto chegou a 215 mil toneladas, de acordo com o último estudo do IBGE - um crescimento de 113% em relação a 2006 (saiba mais aqui).

“O projeto trouxe benefícios para os envolvidos, como uma maior participação das mulheres em suas comunidades e mais maturidade aos jovens, que estão desempenhando papel de liderança. Também vimos um amadurecimento da gestão, com a busca da construção de um modelo próprio para o negócio”, diz Keli Réggias Dias, técnica implementadora da Iniciativa Açaí.

Um exemplo de jovem liderança que vem desenvolvendo suas habilidades com o projeto do açaí é a indígena da etnia Aruá Grazielly Neireika Gomes. Ela trabalha na etapa de monitoramento da produção e diz estar colhendo os frutos desse projeto desafiador. "Percebi a importância da produção sustentável e a oportunidade de crescimento e valorização do território que a cadeia do açaí oferece para nós indígenas. Espero que jovens de outras comunidades também participem desse engajamento", afirma Graziele.

Metas - Além da garantia de geração de renda para as famílias indígenas na entressafra da produção da castanha-do-Brasil, o projeto do açaí tem conseguido envolver os jovens nas atividades, inibindo a migração para a cidade, e vem ajudando a preservar os recursos naturais, com técnicas de manejo e produção sustentáveis.

Fruto de uma palmeira, o açaí tem alta densidade calórica e é rico em vitaminas (A, E, D, K e B1 e B2), minerais (cálcio, magnésio e potássio, ferro), antioxidantes e óleos essenciais. Sua colheita é uma prática indígena ancestral, que agora vem sendo fortalecida pelas novas tecnologias empregadas.

Na TI Rio Branco, os indígenas utilizam geotecnologia como ferramenta para entender a dinâmica de distribuição de espécies e estruturar a cadeia do açaí em áreas de proteção. A partir daí é feito o mapeamento dos açaízais.

A colheita normalmente é feita entre novembro e março, nas áreas de várzea, e de abril a agosto nas regiões de terra firme. Depois de colhido, o fruto, com seu roxo forte característico, é processado, sendo comercializada a polpa.

O período entre a colheita e o beneficiamento é curto para evitar que o produto perca a qualidade. Por isso, antes do projeto, era difícil a comercialização pelos indígenas, que já faziam a colheita, mas não tinham condições de beneficiamento.