Mais de 100 mil filhotes de quelônios são devolvidos à natureza

A pandemia da COVID-19, que levou ao isolamento social em 2020 para tentar evitar o aumento de casos da doença, fez com que comunidades do Médio Juruá, na Amazônia, usassem a criatividade para não deixar que o trabalho de monitoramento de tartarugas parasse na região.

Durante esse processo, os envolvidos adotaram protocolos de saúde. E, para marcar o fim do trabalho, a tradicional Gincana Ecológica foi substituída por eventos de soltura dos animais realizados separadamente em 19 comunidades.

As reuniões nas comunidades tiveram um número menor de pessoas, evitando aglomerações, e as palestras educativas deram lugar a rápidos discursos de agradecimento. Foram devolvidos à natureza mais de 100 mil filhotes de quelônios.

Em 2019, por exemplo, a Gincana Ecológica havia registrado mais de 500 participantes de 45 comunidades das reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Uacari e da Extrativista (Resex) do Médio Juruá (leia mais aqui). A gincana, além de reunir todas as comunidades ao mesmo tempo, contava com um trabalho de conscientização de crianças e  jovens, por meio de palestras dos monitores, e com uma competição em que o vencedor era onde o tabuleiro -- praias de desova de tartarugas -- tinha mais animais.

A conservação de quelônios é uma das atividades do Programa Território Médio Juruá, coordenado pela SITAWI, com o apoio da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), Natura e Coca-Cola Brasil. Há ainda a participação de representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Associação dos Moradores Extrativistas da Comunidade São Raimundo (AMECSARA), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA) e outros parceiros estratégicos do Fórum Território Médio Juruá.

O projeto apoia os monitores, que se revezam durante os quatro meses na vigilância de tabuleiros. O período de monitoramento vai de julho -- quando os quelônios começam a buscar locais para desova -- até novembro -- mês em que os últimos ovos eclodem. O suporte financeiro é necessário porque neste período os monitores têm que ficar nas praias, longe de suas comunidades, impossibilitados de manter outras fontes de renda.

Preservação - O monitoramento de quelônios é importante porque esses animais são alvos de caçadores ilegais e contrabandistas para comercialização. Geralmente são caçados durante a desova, quando estão em terra firme e com movimentos mais lentos.

"Por causa da pandemia, decidimos que no lugar da gincana seria feita a soltura envolvendo apenas uma comunidade de cada vez, com equipes reduzidas para manter a segurança. O ruim foi que não tivemos as palestras e a festa, que os moradores gostam muito. Mas, por outro lado, conseguimos envolver um maior número de pessoas no total com uma quantidade significativa de animais soltos", avalia Raimundo Nonato Cunha de Lima, brigadista do ICMBio e representante da AMECSARA. 

Lima lembra que as comunidades do Médio Juruá realizam o monitoramento há anos e isso vem ajudando a preservar a biodiversidade da região. A proteção dos quelônios contribui também para a geração de benefícios a outras espécies predadoras da fauna, como aves aquáticas, peixes (principalmente bagres) e jacarés.

Com os eventos realizados em cada uma das comunidades em 2020, parte dos animais foram soltos em lagos de reserva, com menor presença de predadores, permitindo assim que um maior número de quelônios tenha chance de chegar à fase adulta. 

Para 2021, Lima diz que deverá ser feita uma discussão sobre o formato das comemorações (quando os períodos anuais de monitoramento terminam) para, talvez, mesclar a Gincana Ecológica com eventos nas comunidades.