Intercâmbio fortalece caminho para turismo comunitário
evereiro, 2023 - Em uma experiência única, indígenas Xerente e quilombolas Kalunga participaram de um intercâmbio durante a Oficina sobre Turismo de Base Comunitária, entre os dias 15 e 18 de janeiro. Realizado na Terra Indígena Xerente, no Tocantins, o encontro foi uma oportunidade para dar continuidade à troca de informações sobre o tema, que começou em novembro de 2022, quando os Kalunga receberam os indígenas na comunidade Engenho II, em Cavalcante, no estado de Goiás.
A reunião foi promovida em uma parceria entre o Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), a Universidade de Montana (EUA), a Associação Quilombo Kalunga (AQK) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) com o apoio da USAID/BHA (Bureau for Humanitarian Assistance) e da USAID/Brasil.
Foi um momento de trabalho conjunto no planejamento turístico, atividade que os Xerente começam a estudar para uma possível implementação no território. Parte das ações foi desenvolvida no âmbito do Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Fogo do Brasil, do USFS com apoio da USAID/Brasil (conheça mais aqui).
“Acho muito importante a organização entre nós indígenas para trabalhar o coletivo, isso é muito valioso para nós. Precisamos aplicar em todas as etapas do planejamento de etnoturismo na nossa região”, avaliou Pedro Paulo Xerente (foto), presidente da Associação de Brigadistas Indígenas Xerente (ABIX).
Para Dominga Natália Moreira dos Santos Rosa, liderança da comunidade Engenho II, do Quilombo Kalunga, “foi uma experiência de muita troca”. “Os indígenas terão a oportunidade de se organizar desde o início. Tem coisas que nós demoramos muitos anos para aprender e foi bom compartilhar esses conhecimentos com os Xerente. Eles têm um potencial gigante”, afirmou a liderança quilombola.
Por meio da oficina foi possível discutir sobre o potencial do turismo de base comunitária no território, incluindo as Terras Indígenas Xerente e Funil, e pensar nos primeiros passos do planejamento. Os Kalunga compartilharam o aprendizado que as comunidades já acumularam com o turismo em seus territórios.
Também foram abordados temas transversais, como aspectos sobre o manejo do fogo, de gênero e da juventude, integrados ao potencial do turismo de base comunitária. Além disso, os participantes trataram do papel das mulheres neste contexto.
No caso dos indígenas, outro ponto importante é a inclusão da FUNAI neste processo, já que a fundação é o órgão responsável por proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil e esteve presente durante a oficina.
“Vejo um potencial para eles desenvolverem o turismo por meio das tradições, alimentação, histórias dos anciãos, da pintura, do artesanato, das belezas naturais e ainda a possibilidade de envolver as mulheres”, afirmou Jenn Thomsen, professora associada da Universidade de Montana e instrutora da oficina de turismo.
Os Kalunga compartilharam com os Xerente durante a oficina experiências sobre os desafios e oportunidades nas atividades de turismo. O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, localizado em Goiás, é um local demonstrativo do projeto nas práticas do turismo, tendo como principal atrativo a Cachoeira Santa Bárbara, que conta com milhares de visitantes a cada mês. Na alta temporada, chegam a receber 300 pessoas por dia.
Futuro - Ao final do encontro, o grupo montou um plano de ação e criou uma comissão Xerente focada no turismo de base comunitária para dar andamento aos trabalhos. Um dos próximos passos para o Povo Xerente é o mapeamento de atrações culturais e naturais do território para identificar onde o turismo pode ser desenvolvido, além de fazerem encontros entre as lideranças das aldeias para alinhar as possíveis atividades em suas terras.