Ganhadora do prêmio Mulheres que Fazem a Diferença, indígena dá voz a seu povo

Com sua voz firme e discurso pela luta dos direitos indígenas, principalmente das mulheres, Telma Marques Taurepang não se esquiva de falar. Participa de eventos em redes sociais para dar visibilidade aos povos tradicionais que protegem a floresta amazônica, conta a história de seus ancestrais em programas na TV, dá palestras e incentiva projetos que resgatam tradições em Terras Indígenas (TIs) de Roraima, seu estado natal.

Por esse trabalho, além do ativismo ambiental, Telma foi uma das sete homenageadas pela Embaixada e os Consulados dos Estados Unidos com o prêmio Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença 2021. É um reconhecimento a mulheres que se destacam em sua área de atuação a ponto de chamar a atenção no cenário nacional, gerando transformações estruturais na sociedade e servindo de exemplo (saiba mais aqui).

Da etnia Taurepang e vivendo na comunidade Mangueira, na TI Araçá (em Roraima), Telma vem trabalhando em programas para promover o empoderamento de mulheres indígenas por meio de cursos de formação e de capacitação. Ela vê a educação como uma forma de fortalecimento, e esse foi um dos motivos que a levaram a cursar Antropologia, na Universidade Federal de Roraima.

Coordenadora-geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia (UMIAB), ela também vem ajudando a estimular ações para resgatar a medicina tradicional de povos indígenas, principalmente por causa da pandemia da COVID-19, e incentivar o plantio de roças nas aldeias como forma de obter alimentação.

A UMIAB é uma das organizações que participam do projeto de Fortalecimento das Capacidades das Organizações Indígenas na Amazônia. Financiado pela USAID/Brasil, dentro da Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), o projeto tem entre seus objetivos aumentar a influência dos povos indígenas na governança da região para proteger a floresta e os direitos das comunidades.

Vinda de uma linha matriarcal, Telma tem na avó materna, Olindina Tenente, e na mãe, Zenilda Tenente, ambas Taurepang, suas principais referências. Também cita as ativistas indígenas Tarcila Rivera Zea, do Peru, e a brasileira Sônia Guajajara como inspiração (conheça mais sobre Tarcila e sobre Sônia).   

Leia trechos da entrevista que Telma concedeu ao site da PCAB:

Como recebeu a notícia do prêmio?
Temos trabalhado para aumentar a visibilidade das mulheres indígenas e ajudá-las a denunciar violações de direitos. Dar voz a esse trabalho é importante e me deixa muito emocionada. Nesse sentido, a parceria com a USAID/Brasil também tem fortalecido esses projetos, mesmo com as dificuldades da pandemia. 

Qual foi o impacto da COVID-19 nas aldeias indígenas em Roraima?
A pandemia foi muito cruel, principalmente porque chegou em um momento em que os indígenas vinham lutando contra violação de seus direitos, pressão sobre os territórios e falta de políticas públicas voltadas aos nossos povos. Perdemos e estamos perdendo muitas vidas, nossas bibliotecas e histórias, que são os anciãos, os pajés, as lideranças. Tivemos que recorrer ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF) para conseguir subsídios a esse enfrentamento e para que a vacina chegasse às aldeias. 

Como vocês enfrentaram as desconfianças em relação às vacinas provocadas por fake news?
As organizações indígenas tiveram de criar estratégias e formar jovens para a comunicação e para combater essas notícias falsas. Nesse sentido, a parceria da UMIAB com a USAID foi de extrema importância. Conseguimos instalar pontos de internet nas aldeias. Com isso, pudemos fazer capacitações e dar agilidade na comunicação. Agora, as mulheres podem comunicar muito mais rapidamente o que está acontecendo nos territórios, a luta que estão enfrentando nas aldeias e se há violação de direito. 

Qual mensagem você deixaria?
É por meio da união e do olhar ao próximo que fazemos a diferença para as futuras gerações. Nós, mulheres indígenas, fazemos a diferença por causa do olhar para o bem-viver do nosso povo. A terra é uma mãe, que cuida do seu filho. Nós, mulheres indígenas, cuidamos das próximas gerações e da floresta. 


** Em 2020, uma das vencedoras do prêmio concedido pela Embaixada dos EUA foi a coordenadora da  Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO), Claudinete Colé de Souza. Conheça a história dela aqui.