USAID apoia investimento de impacto na Amazônia
Investimentos de impacto são investimentos que além dos ganhos financeiros buscam também gerar impactos positivos sociais e ambientais. Representam uma pequena parcela do total de investimentos global, mas crescem a uma velocidade impressionante: o volume de recursos destinado a investimentos de impacto dobra a cada ano. O que começou como um nicho, hoje atrai governos, bancos de desenvolvimento e de investimentos, empresas privadas, fundações e institutos discutindo e realizando ações sobre o tema. Segundo a Rede Global de Investimentos de Impacto, hoje há mais de US$ 500 bilhões de dólares de ativos sob gestão de impacto no mundo.
No Brasil não é diferente, mas o investimento de impacto ainda é restrito a instituições e investidores com grandes patrimônios, concentrado nas regiões mais industrializadas do país e em setores como tecnologia da informação e saúde.
Segundo a gerente de Investimento de Impacto da SITAWI, Andréa Resende, “quando olhamos para os negócios que nasceram para resolver um problema social ou ambiental, 80% estão captando investimentos e a metade deles buscam recursos entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão. É o chamado ‘vale da morte’”. Isto porque o empreendedor ou tem dificuldade de acessar este cheque porque é muito pequeno para acessar fundos de investimento ou dívidas estruturadas ou porque é um volume muito grande para caber no bolso do investidor, explica.
Dentro da estratégia de engajamento com o setor privado da USAID, a USAID/Brasil tem estimulado a formação e o crescimento da Plataforma de Parceiros pela Amazônia e ajudou a inspirar um fundo de investimentos de impacto privado voltado justamente para as empresas amazônicas no ‘vale da morte’.
Anunciado em outubro, em Belém, durante o lançamento da PPA Pará, o Althelia Biodiversity Fund (ABF), é um fundo privado brasileiro, gerido pela Althelia Funds e administrado pela Vox. Criado após consultas com diferentes setores, incluindo membros da PPA, que inclui grande empresas como Beraca e Ambev, empresas de porte sediadas na Amazônia como Bemol e Rede Amazônica, médios e pequenos empreendimentos, além de instituições filantrópicas e da sociedade civil.
O ABF teve como primeiro grande investidor o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), uma instituição multilateral de pesquisa que é parceira de longo prazo da USAID e investiu os primeiros US$ 60 milhões. A própria USAID, através de um mecanismo chamado Development Credit Authority oferece garantia para os investidores de perdas até 50% dos valores investidos. Por outro lado, o ABF incorporou indicadores de biodiversidade desenvolvidos pela USAID e CIAT e vai monitorar estes impactos positivos.
Durante a Rodada de Negócios da PPA de 2019, em dezembro, a Althelia Funds entregou as três primeiras cartas de intenção a startups, cujos financiamentos de longo prazo podem chegar a R$ 7 milhões. Uma das empresas a receber a oferta foi a Manioca, que produz alimentos regionais de alta qualidade e busca financiamento para construir uma fábrica para produzir tucupi preto – uma receita indígena de redução de mandioca brava, usada como tempero e cuja textura lembra o molho inglês. A Manioca já fornece seus produtos para uma grande rede de supermercados e tem auxiliado produtores a criarem um padrão para melhorar a qualidade de suas casas de farinha.
Segundo Nick Oaks, CEO da Althelia Funds no Brasil, o objetivo é investir US$ 100 milhões nos próximos 11 anos, principalmente de capital privado.
Já a SITAWI, parceira implementadora da USAID/Brasil no Projeto Médio Juruá, que trabalha com desenvolvimento de cadeias de valor, e também integrante da PPA, lança no primeiro trimestre de 2020 uma rodada de empréstimos coletivos focada em negócios sustentáveis na Amazônia. A plataforma vai captar com investidores pessoas físicas e tem como apoiadores a USAID, CIAT e o Instituto Humanize. “O chamado investidor de varejo não encontra abundância de produtos disponíveis para investir de forma alinhada com seus valores, explica Andrea.
Tanto o ABF como a rodada de empréstimos coletivos da SITAWI visam auxiliar as startups com propósito na Amazônia a saírem do vale da morte e a contribuírem para a criação de um novo modelo de desenvolvimento para a região, que possa contribuir para a conservação da maior biodiversidade do planeta e melhorar as condições socio-econômicas das populações que vivem na maior floresta tropical da Terra.