Entreposto permite congelamento e embalagem do pirarucu, abrindo novas possibilidades para ribeirinhos

Essencial para a conservação do pirarucu selvagem na Amazônia, o manejo sustentável realizado por comunidades ribeirinhas e indígenas do território Médio Juruá vem ajudando a fortalecer a cadeia produtiva do pescado e gerando renda para os manejadores. Agora essa cadeia ganhou um reforço: o início do funcionamento do entreposto, no município de Carauari (AM).  

O local tem capacidade para processar, em média, 5 toneladas de pescado por dia e estrutura para armazenar até 300 toneladas de peixe, antes que seja encaminhado para a comercialização. Um pirarucu adulto pode medir entre 2 e 3 metros e seu peso pode variar de 100 a 200 quilos.

No entreposto, os funcionários fazem o corte, congelamento e embalagem do produto. Além do pirarucu, também estão sendo processados outros tipos de pescado no entreposto, como tambaqui e surubim. 

A instalação e o gerenciamento estão sob a responsabilidade da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), que antes dependia da contratação de frigoríficos terceirizados para o processamento do pirarucu, gerando custos e dificuldades operacionais. A construção do empreendimento foi viabilizada por meio de várias parcerias e a USAID/Brasil estava entre elas.  

O manejo sustentável do pirarucu selvagem, um dos maiores peixes de escamas do mundo, garante que as florestas e águas nas áreas onde a atividade acontece sejam protegidas de ameaças e pressões externas. Promove a conservação do pescado e de outras espécies, mantendo os serviços ecossistêmicos e contribuindo para evitar a emissão de carbono e mitigar efeitos das mudanças climáticas. 

Entre 2012 e 2016, o aumento médio da quantidade de pirarucu em Unidades de Conservação monitoradas foi de 19% ao ano, segundo levantamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Somente no Médio Juruá, a quantidade de peixes contados nos lagos monitorados cresceu mais de 70% nos últimos quatro anos, passando de cerca de 14.300 em 2018 para quase 25 mil em 2021.  

“O entreposto tem um grande objetivo, que é absorver a produção do nosso ambiente. Tínhamos que mandar todo o pescado para Manaus e isso elevava os custos. Nosso manejador tinha mais despesa. O objetivo é reduzir custos, ter produção de qualidade e consequentemente melhorar o preço para os nossos manejadores e a qualidade de vida deles”, afirma Manuel Siqueira, presidente da ASPROC.

Para Adevaldo Dias, assessor da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) e presidente do Memorial Chico Mendes, o entreposto vai permitir o processamento do pirarucu em local mais próximo das comunidades que fazem a pesca, contribuindo ainda mais com a qualidade do produto. “Garante, assim, preço justo ao manejador e autonomia na cadeia. Além disso, conseguimos envolver mais moradores locais ao capacitá-los para trabalhar no local", diz Dias. 

Treinamento - Atualmente, 12 moradores de comunidades do Médio Juruá foram contratados para trabalhar no entreposto, sendo metade mulheres. Eles foram indicados pelas próprias comunidades e passaram por treinamentos no primeiro semestre deste ano. 

“Nosso entreposto funciona hoje com mão-de-obra dos próprios comunitários, que passaram por uma capacitação. Como eles são donos podem se sentir cada vez mais responsáveis pela sustentabilidade, pelo trabalho e pela qualidade do produto processado aqui”, resume Siqueira.

É exatamente essa responsabilidade pela qualidade do trabalho que o funcionário do entreposto Everaldo dos Santos Araújo expressa. Morador da comunidade Bauana, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari, Araújo diz que a construção do local foi resultado de “um sonho realizado depois de muita luta”. 

“Graças às pessoas que representam a associação hoje, com responsabilidade, a gente concluiu esse entreposto aqui. Fui escolhido pela comunidade, passei na prova, fiz o treinamento e hoje estou trabalhando. É um orgulho, é gratificante para mim”, afirma Araújo, que é pai de dez filhos.

E completa: “Deixei minha família na comunidade, mas estou aqui para ajudar cada vez mais, dar meu melhor para que a gente possa se fortalecer mais. Hoje estamos trabalhando com peixe do nosso manejo que foi preservado”.

Conheça mais sobre o projeto nos sites da PCAB, da PPA e da SITAWI