Diretora da ARQMO é premiada pela Embaixada dos EUA por seu trabalho com comunidades quilombolas

“Conseguir mostrar para o mundo que em Oriximiná, nesse cantinho da imensa Amazônia, há uma forma de organização forte, que dá condições para os povos quilombolas lutarem pelo que sonham. Isso é o que desejo que continue acontecendo.” Foi assim que Claudinete Colé de Souza, coordenadora da  Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO), resumiu o que sentia por ter seu trabalho reconhecido.

Claudinete foi uma das oito vencedoras do Prêmio Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença 2020, concedido em novembro pela Embaixada e pelos Consulados dos Estados Unidos no Brasil. O prêmio faz uma homenagem às mulheres que estão gerando impacto positivo em suas comunidades no Brasil e servindo como inspiração. 

Entre os trabalhos desenvolvidos pelas premiadas estão iniciativas econômicas e ambientais, engajamento cívico, inclusão e direitos de migrantes e refugiados, políticas de minorias religiosas e étnicas, comunidades indígenas, mulheres com deficiência e outros grupos historicamente marginalizados. “Expressamos nossa gratidão e admiração a essas oito mulheres brasileiras incríveis, que trabalham incansavelmente para apoiar e avançar suas comunidades”, afirmou o embaixador dos EUA, Todd Chapman, em entrevista ao site da Embaixada.

Integrante da ARQMO desde 2015, Claudinete foi uma das que lideraram em Oriximiná  o desenvolvimento do  Compartilhando Mundos, implementado pela Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM) com o  Google Earth Outreach, que contou com o apoio local da ARQMO e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Usando uma metodologia inovadora, o programa realizou levantamentos e análises de dados de comunidades quilombolas de seis Estados da Amazônia Legal. Ao contrário da maioria dos estudos sobre essas populações, o Compartilhando Mundos capacitou os próprios moradores, principalmente jovens, para que eles mesmos realizassem a pesquisa.

Entre os objetivos estava o de apoiá-los na busca pelo registro da história, fortalecendo laços com outras comunidades e facilitando o acesso a políticas públicas. O projeto resultou na publicação: "Quilombos e Quilombolas na Amazônia – Os desafios para o (re)conhecimento" (leia aqui).

A associação não tinha praticamente nenhuma informação documentada sobre o nosso povo. Com esse trabalho, conseguimos coletar dados, entrevistar moradores e fazer a tabulação para saber as prioridades das comunidades. Com isso, pudemos buscar ferramentas e parcerias para levar melhorias. O resultado foi muito satisfatório”, avalia Claudinete. 

Em Oriximiná, a 820 km de Belém, capital do Estado do Pará, são oito territórios abrangendo 37 comunidades quilombolas, com uma população de cerca de 8 mil pessoas. Sob a coordenação de Claudinete, a ARQMO vem implementando projetos sociais em educação, saneamento, meio ambiente e fortalecimento da agricultura familiar. 

Entre os avanços obtidos até agora, ela destaca a melhoria da comunicação e o desenvolvimento de ferramentas de gestão que ajudam as comunidades a trabalharem suas necessidades. “Antes a comunicação com algumas comunidades era muito difícil por causa da distância. Elas ficam muito afastadas do centro da cidade, em muitos casos o único acesso é pelo rio. Com a internet, a comunicação fica mais fácil.” 

Para Claudinete, ainda é preciso enfrentar desafios como a oferta de educação de qualidade para crianças e jovens quilombolas e o combate às ameaças de invasões dos territórios. Mãe de três filhos, ela destaca que as mulheres têm buscado reconhecimento do seu papel na sociedade. “A mulher sabe organizar seu tempo e lutar por seu espaço.”