Curso prepara grupo em Carauari para trabalhar no processamento do pirarucu selvagem
Um grupo de 30 pessoas, sendo metade mulheres, foi capacitado no primeiro semestre deste ano, com curso teórico e prático, para trabalhar na cadeia de manejo sustentável do pirarucu selvagem no município de Carauari, no Médio Juruá. Os participantes aprenderam desde a higienização do peixe, até técnicas de corte, de congelamento e embalagem.
O programa de formação foi executado pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), em conjunto com o Memorial Chico Mendes, integrante do Coletivo do Pirarucu, e a empresa de consultoria em segurança de alimentos INSEQ.
Fez parte do Projeto Cadeias de Valor, realizado em parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com assessoria técnica do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e apoio da USAID/Brasil.
Todos os protocolos de prevenção e segurança sanitária relacionados à COVID-19 foram adotados durante a capacitação, com o uso de máscaras e equipamentos de proteção pelos participantes e instrutores, além do distanciamento social e medidas de higiene.
Esse grupo deve trabalhar no entreposto que está sendo instalado em Carauari para viabilizar o processamento e congelamento do pirarucu selvagem pescado por manejadores ribeirinhos e indígenas da região.
Na região ao longo do rio Juruá, a pesca começa neste mês de setembro. Cada comunidade define a data em que os manejadores podem realizar a atividade, capturando a quantidade de pescado estabelecida durante o manejo. Esse controle vem permitindo a conservação da espécie, que chegou a ficar ameaçada na Amazônia nos anos 1980.
O manejo sustentável do pirarucu selvagem, considerado um dos maiores peixes de escamas do mundo, garante que as florestas e águas nas áreas onde a atividade acontece sejam protegidas de ameaças e pressões externas. Promove a conservação do pescado e de outras espécies, mantendo os serviços ecossistêmicos e contribuindo para evitar a emissão de carbono e mitigar efeitos das mudanças climáticas.
O fortalecimento do manejo participativo do pescado e sua comercialização a preços justos estão entre os objetivos da marca coletiva Gosto da Amazônia, criada em 2019 pelo Coletivo do Pirarucu e que vem desenvolvendo estratégias conjuntas para a valorização da cadeia produtiva.
Construindo juntos - O Coletivo do Pirarucu é uma rede de pescadores indígenas e ribeirinhos das bacias dos rios Negro, Solimões, Juruá e Purus e seus parceiros governamentais e não governamentais, que desenvolvem estratégias conjuntas para a valorização e o fortalecimento do manejo. Atualmente, representa cerca de 4 mil manejadores em aproximadamente 30 áreas, entre Terras Indígenas, Reservas Extrativistas e de Desenvolvimento Sustentável.
A Asproc, com assessoria do Coletivo, é responsável pelo arranjo comercial do Gosto da Amazônia, que garante preços mais justos aos manejadores, chegando a ser até 60% maior que o valor médio praticado nos mercados locais.
Outra conquista neste sentido foi a revisão e aumento do preço mínimo do peixe manejado no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão ligado ao governo federal.
Além disso, o manejo do pirarucu foi incluído como atividade passível de receber subvenção na Política de Garantia de Preços Mínimos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio). Ou seja, o pescado passou a ter preço mínimo garantido pela Conab -- pequenos pescadores que comprovarem a venda por valores abaixo desse mínimo têm direito a um auxílio.