Coletivo de extrativistas: Promovendo oportunidades para mulheres

Mulheres participam de atividade durante encontro
Encontro trouxe relatos e resgate de trajetórias, com reflexões

Maio, 2023 - Acordar antes de o sol nascer e ir para dentro da floresta no período da coleta de sementes ou de castanhas. Participar do processo de beneficiamento do açaí. Preparar matéria-prima da natureza usada para fabricar biojoias. Essas atividades aliadas ao cuidado da casa e dos filhos fazem parte da rotina de mulheres extrativistas de comunidades tradicionais da Amazônia, mas nem sempre são reconhecidas nos locais onde vivem. 

Ações e formas de mudar essa realidade para tirá-las da invisibilidade estiveram em pauta durante o II Encontro de Mulheres Agroextrativistas, realizado em Macapá, capital do estado do Amapá, no extremo norte do Brasil.

“A mulher atua e é fundamental em toda a cadeia produtiva da sociobiodiversidade, mas infelizmente ainda é apontada como a pessoa que ajuda. Ela não apenas ajuda, mas sim é protagonista no processo, assim como os jovens, que também devem ter seu espaço” resume Jaqueline Sanches, da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai), um dos coletivos que participaram do evento. 

Para a coordenadora do encontro, Waldiléia Rendeiro, que é analista socioambiental do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), várias organizações de mulheres têm potencial para atuar em ações de produção e de desenvolvimento territorial, porém enfrentam desafios. “Entre eles estão as dificuldades de acesso a recursos e financiamentos, a falta de incentivo para o aprimoramento da estrutura organizacional e produtiva e a invisibilidade. Isso se reflete na pouca representatividade e no acesso a políticas públicas.” 

Representante da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas – um grupo que trabalha com o beneficiamento da produção da culinária local de forma coletiva –, Deurizete Cardoso mostrou na prática como os obstáculos precisam ser superados, ao falar dos desafios enfrentados para entrar em mercados institucionais,  como programas de alimentação escolar. “Tivemos dificuldades para obter acesso a políticas públicas. Mas, quando a gente vai para dentro desse processo e luta não só pelos benefícios de uma, mas de todas as mulheres, acho que isso se torna mais viável.”

Nova etapa - O evento reuniu cerca de 40 representantes de 20 organizações de base dos estados do Pará e Amapá. Marcou o encerramento do projeto “Articulação em Rede”, apoiado pelo Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar, e o  início do “Semeando a Sustentabilidade”, iniciativa coordenada pelo IEB, com investimento da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) e do setor privado, além da parceria com a Aliança Bioversity/CIAT e a Amazonbai.

O projeto busca fortalecer empreendimentos comunitários e coletivos de mulheres agroextrativistas por meio de formação continuada com foco em sistemas de gestão para processos produtivos, de governança territorial e de empreendedorismo. Dez empreendimentos da articulação serão selecionados para participar de uma formação continuada, prevista para junho.

“Na diversificação da cadeia produtiva, a mulher aparece como destaque na produção sustentável seja do manejo florestal, da castanha, dos óleos ou na fabricação de biojoias”, afirma Maria Creuza Ribeiro, da comunidade Por Ti Meu Deus, na Reserva Extrativista Verde para Sempre, e uma das integrantes da Associação de Mulheres do Campo e da Cidade, em Porto de Moz, no Pará. 

Surgiram reflexões sobre estratégias de produção e comercialização de produtos da sociobiodiversidade, organização social e política, além dos direitos de meninas e mulheres. 

“Fizemos um resgate da discussão do primeiro encontro, realizado em dezembro, onde buscamos identificar e estimular a cooperação entre os grupos. A partir disso, aprofundamos nos desafios que essas iniciativas enfrentam na produção, comercialização e organização, abordando possibilidades de ações. Construímos coletivamente uma estrutura mínima de funcionamento dessa articulação, cuja missão se volta, inicialmente, à mobilização, intercâmbio e fortalecimento dos coletivos de mulheres”, resume Waldiléia.

Para continuar construindo os caminhos desse trabalho, as participantes criaram a Articulação de Mulheres Amazônicas, que terá uma agenda de reuniões online para aprofundar as reflexões e fortalecer os mecanismos de governança.  

“Vamos partir para um programa de formação, com investimento em educação e qualificação para que possamos ter organizações fortes, com atores que tenham voz ativa e capazes de tomar decisões”, diz Jaqueline.

Assista ao vídeo sobre o encontro: