Cadeia da castanha: fortalecendo comunidades e conservando a floresta
Outubro / Novembro, 2022 - Além de ser uma fonte de renda para comunidades tradicionais da Amazônia, produtos de cadeias de valor sustentáveis, como a castanha-do-Brasil, são também propulsores do fortalecimento de organizações coletivas em busca da defesa de direitos de indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Com isso, contribuem com a conservação da biodiversidade e preservação da floresta em pé.
Essa foi uma das linhas de discussão de um encontro inédito, que reuniu durante três dias (no final de agosto) em Manaus, capital do estado do Amazonas, entidades e produtores no 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros.
Participaram do evento representantes de 57 organizações extrativistas de 61 áreas protegidas dos sete estados produtores. Eles discutiram os obstáculos vivenciados pela base da cadeia de valor da castanha e formas de se organizar coletivamente para enfrentá-los.
Entre os temas abordados estavam comércio e preço justo, criação de redes de comercialização, integridade territorial, representatividade para incidência política e valorização da identidade castanheira e extrativista. “Tenho certeza que estamos fazendo aqui o que foi feito em março de 1989, fortalecendo a aliança dos povos da floresta”, disse Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), lembrando da histórica aliança liderada por Chico Mendes que promoveu a defesa dos territórios indígenas e impulsionou a criação das Reservas Extrativistas.
Mulheres castanheiras também reivindicaram reconhecimento e visibilidade. “Nós mulheres raramente somos tratadas como castanheiras. É sempre os castanheiros. Não temos essa visibilidade apesar de sermos castanheiras também. Saímos de casa junto com os homens, fazemos a coleta, aplicamos as boas práticas e não somos reconhecidas”, afirmou Shirlei Arara, liderança da Terra Indígena Igarapé Lourdes, em Rondônia.
O encontro foi promovido pelo Coletivo da Castanha e pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) em parceria com uma série de organizações da sociedade civil e de base comunitária produtoras de castanha. Teve o apoio do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, da USAID/Brasil e da Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA).
Segundo André Tomasi, coordenador do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e membro da secretaria-executiva do OCA, o encontro foi um momento de os povos se unirem. “Estamos falando de castanha, mas no fundo no fundo falamos dos povos, das pessoas e estamos nos organizando para lutar pelo que queremos.”
A organização - O Coletivo da Castanha, uma rede com mais de 150 extrativistas de 70 organizações comunitárias de sete estados produtores, realiza o monitoramento participativo de preços das safras de castanha desde 2017.
É organizado pelo OCA, também uma rede de organizações que tem como missão produzir conhecimento e inteligência, além de mobilizar os diversos atores da cadeia de valor para consolidar um mercado justo, que valorize os povos, populações e comunidades envolvidas ao mesmo tempo em que promove a conservação da floresta.
A programação do 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros foi dividida em 3 momentos: “Quem somos e de onde viemos”; “Onde estamos” e exemplos de sucesso na cadeia da castanha.
Houve ainda uma dinâmica para que todos os participantes pudessem apresentar ideias e demandas sobre os caminhos que o Coletivo da Castanha deve seguir. Ao encerrar o evento, foi lida a Carta do 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros, que trata da representatividade da cadeia, os problemas e ameaças enfrentados pela base produtiva, além de demandas para a garantia da valorização do trabalho extrativista e da qualidade de vida das populações.
Para Bruno Dutra, da Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru), do Amapá, a castanha vai além de uma cadeia de valor. “Às vezes pensamos que estamos vendendo castanha, mas estamos vendendo história, sonho. O Coletivo da Castanha serve para nos unirmos, encontrarmos oportunidades.”
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