A busca de um sonho para gerar ‘janelas de oportunidades’ pela educação

Vista aérea da área do Centro de Saberes
Casal indígena tem projeto de criar universidade dentro de território no Maranhão

Setembro / Outubro, 2023 – “Vocês estão abrindo uma janela de oportunidades para a gente”. Esta foi uma das frases ouvidas pela diretora geral do Centro de Saberes Tenetehar Tukan, Fabiana Guajajara, que a incentivaram a não desistir de um projeto audacioso – investir na construção e instalação de uma universidade indígena dentro de um território indígena. O Centro de Saberes é um projeto do Instituto Tukan, que age em defesa da Amazônia e busca autonomia por meio da educação 

Atualmente a pedagoga trabalha com jovens que procuram cursos no centro, instalado na Terra Indígena Araribóia, no município de Amarante, estado do Maranhão. Ao lado do marido, o cacique Silvio Guajajara, que idealizou o projeto, Fabiana tem buscado recursos para terminar as novas estruturas físicas do local, onde vão funcionar, por exemplo, salas de aula. 

A primeira edificação começou a ser construída em uma área na TI, onde além da estrutura do Centro há uma roça e um rio que passa próximo ao trecho de floresta. O local começou a ser trabalhado durante a pandemia de COVID-19, quando eles voltaram à aldeia Lagoa Quieta. À época, a família recebeu apoio técnico e financeiro dentro do Gestão Ambiental e Territorial Integrada de Terras Indígenas na Amazônia Oriental, que contou com a parceria da USAID/Brasil.

O projeto, encerrado no primeiro semestre deste ano, atendeu a 63 famílias que vivem no território. Foi realizado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), juntamente com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Teve a participação da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), da Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins e da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA).

“A USAID nos deu apoio naquela época. A partir daí, começamos a produzir nosso próprio alimento, em um período muito difícil para a família. Conseguimos força e superamos as dificuldades. Hoje temos um sonho que pretendemos realizar, que é transformar a universidade em realidade”, conta Fabiana, lembrando quando Silvio ficou doente e precisou de cuidados especiais. 

O casal tem buscado superar os trâmites legais e burocráticos para viabilizar a instalação de cursos de graduação e tecnológicos voltados a indígenas na TI. “Muitos jovens da aldeia e de lugares próximos acabam indo para as cidades em busca de oportunidades e emprego. Queremos que eles consigam ficar por aqui e tenham a formação que gostariam”, diz a pedagoga, que teve de se afastar da aldeia para conseguir estudar.

Para Silvio, um dos desafios do projeto é superar preconceitos. “Pensamos em criar a universidade refletindo nosso modo de ver o mundo. Hoje os cursos que existem são desenvolvidos de fora para dentro das aldeias. Queremos que nossas futuras lideranças se formem aqui, fortalecendo nossa cultura e mantendo nossa tradição”, diz o indígena.

 

Eles têm viajado à capital federal, Brasília, e outras cidades em busca de patrocínio e recursos para continuar o projeto do Centro, que tem no nome, em português, a palavra “tucano” (tukan) – ave presente em biomas brasileiros, incluindo a Amazônia, e com simbologia especial para a etnia guajajara por ser considerada uma espécie “espalhadora de sementes”. Na visão deles, a educação também pode espalhar sementes de conhecimento. Na bagagem, o  casal leva um vídeo que mostra a maquete de como ficaria o local com salas, laboratórios, dormitórios e outros espaços projetados. 

Além de parceiros locais e instituições de base, como COAPIMA e Cocalitia, o projeto conta com a parceria do governo do Estado do Maranhão.

Segundo maior território indígena do Estado do Maranhão, a TI Araribóia abriga cerca de 17 mil indígenas guajajara, além dos awá, que vivem voluntariamente isolados. São 232 aldeias divididas em nove etnorregiões que ocupam 413 mil hectares de floresta.  

“Buscamos preencher uma lacuna que a educação convencional não atende – a de poder ter um olhar de dentro da nossa cultura. Queremos um espaço que mantenha nossa memória, nossa ancestralidade e garanta autonomia”, conclui Fabiana. 

Após a primeira construção, houve o lançamento da pedra fundamental para a implementação da universidade na TI Araribóia, em outubro, e depois estão previstas as construções das salas de aula e outras estruturas. A ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas), que também é da TI Arariboia, participou do evento.