‘Guardiões da floresta’: indígenas no combate a incêndios e na luta pela preservação
O conhecimento dos povos indígenas sobre as transformações que a Amazônia registra a cada estação do ano, inclusive com os períodos de seca e cheia dos rios, sempre foi um importante instrumento para a preservação da biodiversidade.
Mas as mudanças climáticas, o aumento do desmatamento e os constantes incêndios criminosos trouxeram um novo cenário que levou esses povos a buscarem capacitação e formas de prevenção às queimadas.
Por isso, as brigadas indígenas têm aumentado nos últimos anos e ganharam destaque em relatório das Nações Unidas. O documento apontou os povos indígenas e comunidades tradicionais como os melhores “guardiões da floresta” (leia o relatório Povos indígenas e comunidades tradicionais e a governança florestal). Em Terras Indígenas (TIs) na Amazônia onde há garantia de posse a essas comunidades, o índice de desmatamento foi 2,5 vezes menor do que em outras áreas.
Essas brigadas trazem conhecimento tradicional ao apoio técnico-financeiro de órgãos como Ibama, Funai e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) com o objetivo de empregar técnicas de manejo para prevenir incêndios na época da seca e combatê-los.
Nesse trabalho de prevenção, o USFS, parceiro da PCAB, promove neste mês de maio o Curso Internacional Virtual de Determinação da Origem e Causa dos Incêndios Florestais, uma capacitação destinada a bombeiros, técnicos e integrantes de brigadas indígenas que trabalham tanto em Unidades de Conservação (UCs) como em outras áreas da Amazônia.
O curso está sendo desenvolvido juntamente com o ICMBio e o IBAMA. Compõe o trabalho do USFS, apoiado pela USAID/Bureau de Assistência Humanitária (BHA).
Nova realidade - Para adaptar à realidade de distanciamento imposta pela pandemia da COVID-19, foram realizados, entre setembro de 2020 e fevereiro deste ano, 7 treinamentos virtuais que atenderam a 157 participantes, sendo 38 mulheres. As sessões foram interativas e abordaram temas como utilização do Sistema de Comando de Incidentes, investigação, prevenção e uso da aviação em incêndios.
"No ano passado, com as restrições de viagem, foi bem difícil. Tivemos de fazer adaptações dos treinamentos ao formato online", explica Jayleen Vera, especialista em programa de incêndio do USFS para América Latina e Caribe.
Em 2020, a floresta amazônica registrou mais de 103 mil focos de incêndio, contra pouco mais de 89 mil focos no ano anterior. Os piores meses são entre agosto e outubro, quando os números crescem.
Jayleen destaca que uma das importantes parcerias na região tem sido com a organização não governamental Aliança da Terra (https://aliancadaterra.org/brigade.html), que trabalha diretamente com comunidades indígenas, de agricultores e de moradores locais. A organização colocou à disposição uma série de vídeos com medidas preventivas (assista aqui).
Além de combater incêndios, os brigadistas indígenas contribuem para a manutenção das roças tradicionais, garantindo alimentação nas comunidades, e para a preservação dos territórios. Fazem o manejo integrado do fogo, prevenção com limpeza de terrenos e a queima controlada para reduzir o material combustível, além de ações de educação ambiental.
“A receita de sucesso é fazer, além da capacitação inicial, uma formação para o manejo em geral, entendendo como prevenir o fogo e como usá-lo de forma segura. É preciso uma capacitação contínua, aliando os conhecimentos tradicionais a outras técnicas de manejo”, afirma Jayleen.