Abrindo caminhos no fogo

Foto: Andressa Anholete/ USAID
Brigadista indígena no Brasil inspira mulheres a combater os incêndios florestais e proteger seus territórios

Simone Xerente é a primeira mulher indígena de sua etnia a ser contratada por uma brigada de incêndios em seu território e a primeira indígena a fazer parte das brigadas Pronto Emprego, brigadas de elite que atendem todo o território brasileiro, do Prevfogo/Ibama, agência ambiental do governo brasileiro.

Ela foi a única mulher na brigada na última temporada de incêndios, entre 30 pessoas. O processo seletivo foi árduo e concorrido. Dentre 156 candidatos - 50 mulheres e 106 homens - Simone ficou em 18º lugar, à frente inclusive do marido, Reginaldo Gomes Xerente, brigadista há quase dez anos.

"Eu chorei de alegria, pulei, disseram que eu não ia passar, mas eu passei, consegui!"

Simone tem 5 filhos e mora em Cachoeirinha, uma das 100 aldeias que fazem parte das Terras Indígenas Xerente e Funil, de 183 mil hectares, no estado do Tocantins, Brasil, onde a Amazônia encontra o Cerrado, cenário de uma natureza exuberante.

A região sofre com incêndios florestais severos durante a seca, muitas vezes devido à conversão de áreas de vegetação nativa em plantação para o agronegócio.

 


 

O começo do sonho

Mesmo tendo que fazer várias atividades domésticas, comuns a muitas mulheres indígenas Xerente, Simone encontrou no fogo a força para realizar seu sonho: proteger seu território.

Via o marido indo para os combates, viajando, e pensava "Eu vou fazer isso também. Sou mulher, mas vou tentar."

E foi na brigada voluntária, primeira do Brasil formada por mulheres indígenas, em 2021, que ela começou a colocar esse sonho em prática.

"Quando a gente começou a brigada voluntária, com todas as mulheres, eu botei na cabeça que eu ia conseguir, mesmo às vezes nem acreditando que eu poderia passar na prova.  As mulheres me inspiraram".

 


 

A preparação

O treino para a prova de teste físico para entrar na brigada, começou a fazer parte de uma rotina já repleta de afazeres. Simone e Reginaldo treinavam juntos. E não iam sozinhos, as filhas e os cachorros também iam atrás.

"Tem que arranjar um tempo, às vezes é meio-dia ou três da tarde. Mas minha meta era treinar todos os dias", explica Simone.

Ela corria 3 quilômetros com uma bomba de 20 litros nas costas, a mesma utilizada na prova e nos combates a incêndios. O outro teste, capinar um terreno de 3x5m em 20 minutos, ela conseguiu fazer em 14 minutos, tempo acima da média entre outros competidores.

 


 

Abrindo caminhos

Ana Shelley Xerente, uma das líderes da brigada voluntária, fala sobre a colega com brilho nos olhos. "Ela me dá forças para eu tentar de novo esse ano, e eu vou conseguir. Simone é uma inspiração para nós".

Pedro Paulo Xerente, presidente da Associação de Brigadistas Indígenas Xerente, é um grande incentivador do movimento, já que a cultura da etnia Akwē ainda é patriarcal, com barreiras para que as mulheres possam trabalhar para além dos afazeres domésticos e do artesanato. "A brigada voluntária é uma ponte para elas chegarem nas brigadas contratadas. As mulheres trazem um olhar mais amplo dentro dos combates, somam bastante."

Ao ser a primeira mulher indígena Xerente a ocupar este espaço em uma brigada, Simone abre caminhos para que mais mulheres se juntem a ela, com um sonho ainda maior:

"Eu quero passar esse ano de novo, mas eu quero mais mulheres contratadas, mais mulheres junto comigo".

Além das mulheres, o filho dela, de 17 anos, se inspira na mãe e quer ser brigadista.

 

 

Como a USAID apoia Simone

Simone é uma das 29 indígenas Xerente que fizeram o primeiro curso de formação de brigada voluntária feminina em 2021.

O curso foi realizado em uma parceria entre USAID/Brasil, Serviço Florestal dos Estados Unidos por meio do Programa Regional Fogo da América do Sul, Associação de Brigadistas Indígenas Xerente, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Prevfogo/IBAMA).

Foram aulas sobre educação ambiental e comportamento do fogo, organização e segurança, além de técnicas de queima prescrita e mobilização.

Elas já inspiraram mulheres indígenas de outras etnias a se organizarem, como a brigada das indígenas Apinajé, que recebeu o curso de formação em 2022, também com apoio da USAID Brasil e Serviço Florestal dos Estados Unidos.

 

Texto: Priscila Steffen, USFS Internationals Program

Fotos por Andressa Anholete para USAID

 Tocantínia, Brazil