“Menino dos Óleos” - Ribeirinhos do Médio Juruá lançam linha própria de óleo de andiroba
Comunitários do Território Médio Juruá, no Amazonas, localizado a mais de mil km de Manaus, criam empresa para comercializar óleos extraídos da região de forma direta.
Fruto da Empresa de Base Comunitária (EBC) Bauana, criada em 2016 com o apoio da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (AMARU), da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), da Secretaria de Meio Ambiente do Estado e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), a empresa “Menino dos Óleos” nasce da perseverança de três extrativistas e empreendedores da RDS Uacari: Reginaldo Oliveira, Manoel de Jesus e Vagner Menezes. As sementes são colhidas e processadas por 32 comunidades da região e há três anos a EBC fornece óleo de andiroba e manteiga de murumuru para a empresa de cosméticos Natura.
“A gente coletava a andiroba para uma cooperativa que beneficiava o óleo e vendia para a Natura. Tinha demanda e muita matéria-prima na região, mas apenas esse contrato não supria as necessidades de todas as famílias. Conseguíamos trabalhar só com os óleos, mas ter um novo produto que agregue valor à produção é bem mais legal. Era o que queríamos desde o início, mas é difícil conseguir”, conta Vagner Menezes. Ele também explica que o nome surgiu por duas razões: “A sacada do’ Menino dos Óleos’ é porque é uma coisa muito importante, algo que a gente quer muito, tem que ter. E também porque somos três homens na agroindústria”.
Além da AMARU e da FAS, a empresa também recebeu apoio do Programa Território Médio Juruá (PTMJ) para fortalecimento do empreendedorismo. Foram realizadas mentorias, oficinas, discussões sobre a qualidade do produto e trocas sobre boas práticas na produção, além de acesso a mercado e financiamento da compra e da instalação de novos maquinários para aumentar a produção. A criação do novo produto também fazia parte do projeto. “A ideia era ter algo além do in natura, com valor agregado, que atinja outros mercados, que traz uma outra renda. Ficamos muito felizes de ter esse produto com tanto potencial de mostrar o que tem no território para todo o Brasil. É um produto que vem diretamente das comunidades tradicionais e que as beneficiam, tanto na questão da geração de renda quanto da proteção territorial, mantendo a floresta em pé”, explicou Felipe Pires, coordenador local do PTMJ, que trabalha na SITAWI, parceira implementadora da USAID.
Dificuldades Amazônicas
Foi um longo caminho até o lançamento da “Menino dos Óleos”. Bauana é uma comunidade distante dois dias de barco de Carauari, sede do município e principal conexão da região. Mais três são necessários para chegar à capital do estado, Manaus. E na direção oposta, rumo às comunidades ribeirinhas mais afastadas, a viagem de barco pode levar mais dois dias. Não há estradas, apenas uma pista de pouso para aviões pequenos. Eletricidade apenas a de geradores e sem sinal telefônico, o rádio é a forma de comunicação. “Empreender na Amazônia, principalmente aqui na Amazônia profunda, por conta da logística, é muito difícil. Só conseguimos com parcerias e muita força de vontade”, diz Vagner.
Com 30 anos, o empreendedor se formou no ensino médio em 2009, e depois de passar três anos sem estudar – devido à falta de oportunidade de educação – conseguiu participar de um curso técnico em produção sustentável, cujo trabalho de conclusão era um plano de negócios para a cadeia de óleos vegetais. Com o apoio da AMARU e da FAS, Vagner e seus colegas conseguiram montar a EBC Bauana. “O apoio da SITAWI, junto com a USAID, a Natura e a Coca-Cola, chegou no momento certo. Quando tudo está dando errado, quando a gente está para desistir, as coisas começam a funcionar. E a gente tava nesse limite. Sem maquinário e pesquisa, não dá para trabalhar com um contrato grande, não conseguíamos suprir o que a Natura pedia. O maquinário novo favoreceu muito a gente”, disse Vagner.
As novas máquinas compradas com o apoio do programa ajudaram a reduzir custos e a aumentar a eficiência da produção. Antes, era preciso o ano todo para processar uma tonelada de óleo de andiroba e agora a produção de três toneladas é feita em 16 dias. Para 2020, a meta é entregar 15 toneladas de produtos da floresta – 10 de óleo de andiroba e cinco de manteiga de murumuru.