Fortalecer cadeias de valor para manter a floresta em pé

Aliar produtos florestais e não-florestais a modelos de negócio rentáveis – que garantam renda para os povos da floresta mantendo-a de pé - é a ideia por trás do fortalecimento de cadeias de valor: “Se não formos capazes de gerar uma economia dinâmica baseada em ativos da sociobiodiversidade, culturais, etc, não vamos conseguir segurar a pressão que a Amazônia ainda sofre,” reforça Valmir Ortega, diretor executivo da Conexus, empresa recém-criada e que aposta na criação de fundos de investimento para alavancar as cadeias produtivas que possam render mais do que o desmatamento para extrativistas, pescadores, coletores de castanha e cooperados amazônidas. Apresentando seu modelo de negócios no Seminário. Ortega defendeu a captação de fundos de risco para alavancar os negócios de cooperativas e associações envolvidas nestas cadeias produtivas. “Filantropia sozinha não sustenta o negócio. O que acontece quando acaba o projeto? Frustração das comunidades e desencanto”.

Manuel Cunha, ex-seringueiro e hoje gestor da Reserva Extrativista (Resex) Médio Juruá, no Amazonas, tem o mesmo sentimento. “Eu corto o último pequizeiro da minha reserva e mato o último peixe boi do lago, se for para salvar a minha família”, resume, e enfatisa. “Eu preciso continuar com o pequizeiro porque vendo o óleo dele e ganho muito mais dinheiro do que com a madeira. Eu preciso manter o peixe boi no lago, porque eu ganho com o turismo”. Cunha fala da preocupação de muitos membros de sua comunidade de que os esforços de conservação muitas vezes não reconhecem a necessidade de se incluir valor econômico a esses recursos, e promover a criação de futuro viável para as famílias que vivem na região, dependem desses recursos, e que quando estes tem um maior valor econômico, comunidades não precisam enfrentar a escolha dramática entre conservação e seu próprio bem estar.

Reforçando a mesma mesma mensagem, o fortalecimento das cadeias de valor são um componente importante do PCAB, com projetos que envolvem desde capacitações e troca de experiências a apoio no desenvolvimento de estratégias para a comercialização. O objetivo é ajudar as comunidades a se tornarem autossustentáveis.

Dalton Tupari, presidente da Associação Indígena de Doá Txato, já participou de várias capacitações do Instituto de Educação do Brasil (IEB), parceiro do PCBA, e do Pacto das Águas, e quer ver a colheita da castanha se expandir na sua comunidade de mais de 350 indígenas. “Com o projeto, vimos infraestrutura chegando na comunidade, agregação de valor, vontade da comunidade de participar. O importante agora é dar continuidade ao que está sendo feito, para não deixar o trabalho parar”, explica animado.

 

Parcerias

 

“Quando falamos de produtos amazônicos, temos produtos de natureza sazonal, uma situação de organização muito limitada, logística difícil, dificuldades de acesso a serviços básicos como energia” explica João da Mata, coordenador de Produção e Uso do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), responsável .no órgão pelo desenvolvimento de cadeias de valor.

Dificuldade de acessar diretamente os mercados, de obter capital de giro e de comercializar o produto por um preço justo, são outros desafios apontados pelos participantes do III Encontro Anual de parceiros do Serviço Florestal Americano (USFS), que também é um dos Parceiros Implementadores do PCBA. “Os diferentes elos da cadeia de valor precisam se conhecer para que ampliar a transparência, a troca de informação, a justiça e a solidariedade entre esses elos. Quando as cooperativas com usinas de castanha de base comunitária começam a pagar um preço justo, os outros compradores começam a aumentar o preço” afirma Kirsten Silvius, coordenadora de projetos de cadeia de valores e consultora do USFS. Para ela, a cadeia da castanha foi uma das mais bem-sucedidas este ano, devido em grande parte às trocas entre os parceiros. No ano que vem, o projeto começará a trabalhar também com a cadeia de valor do açaí.