Indígenas destacam o conhecimento tradicional na governança florestal

‘É importante dar voz aos indígenas que sempre cuidaram da terra’, diz Sinéia Wapichana

Agosto, 2022 - “Hoje é cientificamente comprovado que os povos indígenas fazem um trabalho milenar que não tem dinheiro que pague, protegendo a floresta... Manter a floresta em pé tem manejo sustentável e sabedoria milenar indígena por trás disso”, resumiu a líder Sinéia Wapichana, coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Essa foi uma das várias mensagens ditas durante o painel Conservação da Biodiversidade e Territórios Indígenas, realizado no primeiro dia do Encontro de Parceiros da PCAB. Mediado pela coordenadora executiva do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Andréia Bavaresco, o painel teve a participação de oito representantes de diferentes povos indígenas da Amazônia. 

Para marcar a abertura da discussão, houve o “Canto Uirapuru”, representando um pássaro que quando canta é seguido pelos outros moradores da floresta. “É importante fortalecer os povos indígenas, suas organizações e dar voz a eles que sempre cuidaram da terra de forma gentil e são considerados os guardiões da floresta e da sabedoria que a cerca”, emendou Sinéia.

Durante o evento, os indígenas falaram dos desafios de conservar a biodiversidade da Amazônia diante das pressões externas e dos impactos das mudanças climáticas. “Trabalhamos com os jovens e ensinamos a eles que vale mais a floresta em pé do que degradada. Valorizamos o conhecimento tradicional aliado ao saber das universidades para criar algo inovador”, disse Enock Taurepang, vice-coordenador do CIR.

Jonas Gavião, da associação Wyty Catë, afirmou que a formação de jovens foi essencial, principalmente durante a pandemia de Covid-19. O líder indígena destacou que um dos desafios foi aprender a trabalhar com novas tecnologias para as capacitações a distância. “A formação de agentes ambientais e brigadistas indígenas é de grande importância para o movimento do Maranhão, por isso a importância de fortalecer as condições de trabalho para os povos da região.”

Empoderamento feminino - A representante da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ), Dacilene Apurinã, destacou os projetos que estão ajudando a fortalecer a participação de mulheres indígenas nas comunidades, entre ele o curso de formação “Entre Parentas” (saiba mais aqui).

“Esse projeto veio para dar voz e visibilidade às mulheres indígenas”, destacou, citando vários trabalhos que estão gerando renda, como produção de sabão de andiroba, chocolate feito com cacau nativo, cestarias e cerâmicas. “Isso ajudou as mulheres a terem renda própria, ganhando dinheiro com produtos da natureza, sem desmatar.”

Segundo Marcilene Guajajara, da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão, a inserção de mulheres nos projetos ainda enfrenta resistências, mas elas estão conseguindo avançar. “Estamos indo em busca de melhorias. Hoje a gente quer mais visibilidade.”

A coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA), Sulane Guajajara, destacou as parcerias com organizações e entidades nos projetos de fortalecimento das comunidades.

“A USAID busca a conservação da biodiversidade, assim como os povos indígenas que lutam pela mãe terra, responsável pela vida”, completou Maria Bethânia Macuxi, secretária geral do Movimento das Mulheres Indígenas do CIR.