Carlos Nobre destaca importância da bioeconomia para a Amazônia

Pesquisador participou de palestra no segundo dia do evento

Agosto, 2022 - A necessidade de uma economia orientada para a biodiversidade aliando os conhecimentos científicos aos tradicionais para evitar que a Amazônia chegue ao ponto de não retorno foi o foco central da palestra do cientista e professor pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), Carlos Nobre, durante o Encontro de Parceiros PCAB 2022. 

O “ponto de não retorno da Amazônia” é uma expressão criada por Nobre para designar a partir de qual momento a destruição da floresta tropical mudará a paisagem, transformando-a em savana. Na Amazônia, com o atual ritmo de desmatamento, esse patamar será alcançado em menos de 20 anos, uma vez que a área devastada da floresta chega à 18%.

Segundo o cientista, é preciso uma ação integrada imediata de governos e sociedade para zerar o desmatamento. E para tanto, ele apontou três caminhos: buscar a conservação, aumentar a eficiência de produção de commodities e investir em inovações tecnológicas por meio de formação de redes em parcerias com atores locais para alcançar a inclusão social, o desenvolvimento econômico e a manutenção da floresta em pé.

“Não precisamos desmatar mais. Existem maneiras de usar a biodiversidade da Amazônia para ajudar  a preservação da floresta. O açaí na Amazônia vale mais dinheiro  que soja e boi. É preciso agregar valor aos produtos da floresta” defendeu Nobre. 

O Brasil é o maior exportador de açaí do mundo e o primeiro consumidor, seguido dos Estados Unidos. A cadeia de valor do açaí movimenta mais de US$ 1 bilhão para a economia do Brasil e já melhorou a vida de aproximadamente 400 mil famílias.

Para construir uma base industrial nova alicerçada em produtos de alto valor agregado que venham da floresta Amazônica, Nobre tem encabeçado a proposta de criação de um instituto de tecnologia na região, voltado para o desenvolvimento de  tecnologias de ponta para produzir conhecimento que viabilize a exploração econômica da floresta em pé, nos moldes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Com unidades de pesquisa em diferentes estados amazônicos, o instituto pode ser referência para florestas de todo o mundo. E vai unir a sociobiodiversidade local com alta tecnologia e conhecimentos tradicionais, indispensáveis para o sucesso do projeto.

“É de suma importância considerar os povos originários e comunidades tradicionais, visto que suas atuações se referem ao papel central no ciclo global de carbono, hidrologia, manutenção da biodiversidade, estabilidade climática e manutenção diversidade cultural e étnica”, garantiu o cientista.